Óscar Romero, n. 15 de agosto de 1917

Esgotadas as notícias sobre a festa do Pontal, este ano transformada em manifestação do Tea Party português, com Passos Coelho em fim de prazo e Cavaco Silva numa fugaz ressurreição da sua defunção política, os jornais portugueses já esqueceram o Calçadão da Quarteira. Sobram os incêndios que não param de consumir o País, notícias avulsas sobre Portugal e o Mundo e, naturalmente, páginas sobre o futebol.

Li cuidadosamente o DN e vi as capas de todos os jornais nacionais. Não encontrei uma única referência ao 1.º centenário do nascimento do arcebispo Óscar Romero. Procurei a Agência Ecclesia, agência de informação católica, mas limita-se a anunciar a celebração litúrgica da Assunção de Maria, dogma desde 1950, e bagatelas clericais de Felgueiras a Roma.

O que me surpreende é o silêncio sepulcral sobre o centenário do nascimento do homem que chegou a bispo por ser um padre conservador e passou a proscrito por aderir a ideais da não violência e por denunciar, nas suas homilias dominicais, as violações dos direitos humanos em El Salvador. Camava-se Óscar Romero.

Manifestou publicamente solidariedade com as vítimas da violência política, na Guerra Civil, não se conformou com o assassínio do seu amigo, padre Rutílio Grande, com dois camponeses, em 1977, e defendeu a imensa legião de pobres contra a exploração.

As suas posições sociais e a coragem com que as defendeu valeram-lhe a antipatia do Papa João Paulo II e o ódio dos terratenentes. Foi assassinado quando celebrava missa, em 24 de março 1980, por um atirador de elite do exército salvadorenho, depois de, na véspera, ter denunciado com veemência a repressão no seu país.

Hoje, no 1.º centenário do seu nascimento, é um ateu que o resgata do olvido com que o mataram de novo, nesta singela e solitária homenagem ao arcebispo Óscar Romero.

Faria hoje 100 anos.

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