Um Vaticano assediado mas festivo…

Nada do vamos sabendo sobre o que acontece no Vaticano – e nas suas circunscrições apostólicas mundanas envolventes - é aquilo que parece ou julgamos ser.
 
O cardeal australiano George Pell  link aparece às luzes da ribalta como estando a ser injustamente acusado pela justiça terrena de crimes de pedofilia. Está indiciado, foi investigado, vai a tribunal, mas até ao transito em julgado deve beneficiar da presunção da inocência.
 
 A notícia de orgiásticos festins sexuais e drogas - que nos fazem recuar aos dissolutos tempos dos Médicis – deverão ser interpretadas como manifestações efusivas de clérigos perante a sensaborona monotonia do Vaticano link, sob a sombra tutelar (e imobiliária) da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício).
 
O Vaticano vive, numa semana, sob o espectro dos escândalos coisa que aparentemente parecia ter sido ultrapassada. Não o foi e as ligações com o Mundo manifestam-se cada vez mais ‘disfuncionais’ (para não ser excessivo).
 
Há, todavia, coisas subterrâneas. Interessa, por exemplo, saber se a recente exoneração do cardeal Gerhard Müller (do cargo de perfeito da Congregação para a Doutrina da Fé) não estará relacionada com a denúncia da orgia que, há cerca de 1 mês, decorria no antigo Palácio do Santo Ofício. 
A verificar-se este conluio a posição do Vaticano, tecida à volta de uma nova transparência do cardeal Bergoglio, desmorona-se estrondosamente.
Pouco importa que o monsenhor Luigi Capozzi (em cujo pontifício apartamento decorria o ‘festim’) tenha trocado os Evangelhos pela ‘Ars Amatoria’ de Ovídio.
De relevante é a nebulosa atitude do Vaticano, reveladora da incapacidade em enfrentar problemas ‘seculares’ que se vão acumulando.
 
Pouco terá mudado, no presente, em relação aos tempos cúmplices e obscuros de João Paulo II inseparáveis, por exemplo, do tenebroso ‘apostolado’ de Marcial Maciel. A Cúria permanece inabalável, de pedra e cal, à margem das mudanças e os mais recentes factos questionam a efectividade da liderança de Bergoglio.
Em pouco mais do que uma semana a ICAR é sacudida de novo com mais problemas de índole sexual quando esse lodacento terreno parecia ter sido (finalmente!) dragado.
Na verdade, nada está calmo e a pestilente saga aparece, cada vez mais, como entranhada por detrás das colunatas da praça de S. Pedro. É a saga do ‘Urbi et Orbi’.
 
A ‘questão sexual’, no seio da Igreja Apostólica, permanece em incubação (fermentação) desde o concílio de Trento (1073) com o decretar do celibato sacerdotal à volta de um pretenso mimetismo com a vida do ‘Senhor’. A partir deste diktat começou um festim de escândalos que nem a Reforma luterana conseguiu moderar.
A pia corporação reserva o direito (o dever será outra coisa) de impor regras aos seus associados e congregados.
Estender essa autoridade à sociedade, universalizar regras e isentar-se do seu cumprimento, é - para usar a linguagem criminal - um abuso de poder como, no passado, foi o ‘apostólico’ exercício de uma posição monopolista.
 
Muitos dos problemas decorrentes deste ‘dogma tridentino’ teriam sido evitados se acaso a Igreja Católica deixasse o relacionamento sexual entregue aos seus naturais protagonistas, isto é, aos homens e mulheres deste mundo. Deste modo, seria a sociedade a regular estes relacionamentos, a tipificá-los e a encontrar normas e equilíbrios, separando o natural (e desejável) do abusivo.
Ao pretender estender a sua ‘missão interventiva' imiscuindo-se, como sendo uma autoridade moralizadora, a ICAR, mais não fez do que 'arranjar lenha para se queimar'. Não sem antes andar entretida, durante séculos, a queimar no fogo da Inquisição os que não lhe reconheciam a dita autoridade e não lhe obedeciam.
 
Os homens e mulheres deste Mundo ao serem confrontados com estes sequenciais e infindáveis escândalos, independentemente do resultado dos ‘julgamentos’ (judiciais, sociais e culturais), sentem-se naturalmente submersos numa alterosa onda de hipocrisia.
E a ICAR que, cada dia que passa, demonstra à saciedade (e à sociedade) que não sabe nadar no imenso mar dos desejos e da libido, povoado por humanos.
 
Nunca tivemos a dita de ouvir a ICAR falar sobre prazer ou, o que seria mais espantoso, fazer a sua apologia. E, todavia, todos gostamos e procuramos navegar por esses prazerosos terrenos.
Ámen!

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