A aventura do Ventura, a promoção de Passos Coelho e o desastre anunciado …

O que se está a passar na campanha autárquica em Loures é extremamente relevante em termos políticos. Reduzir a questão suscitada pelo candidato André Ventura a um mero caso de discriminação rácica é não querer enxergar o alcance do que está escondido por detrás de uma nebulosa espuma eleitoral.
 
A campanha autárquica em Lisboa é muito importante em termos de impacto político (trata-se da capital) mas Loures, no contexto da evolução política da Direita nacional, é um marco ainda difícil de interpretar que não deve ser desvalorizado.
 
O que está a ser ensaiado em Loures é, exatamente, um teste da implantação da extrema-direita racista e xenófoba em Portugal. Dada a evolução do ‘caso de Loures’ é difícil esconder que este é o ‘balão de ensaio’ da extrema-direita em Portugal.
 
Demorou algum tempo mas a direita caceteira, fascista, retrograda, xenófoba e saudosista (do salazarismo e império colonial) algum dia teria de aparecer à luz do dia. As tentativas ensaiadas pelo ‘spinolismo’ (MDLP / ELP) enraizados nas casernas, nas sacristias, em esconsos pardieiros fascistas e, mais recentemente, pelo PNR e seu dirigente José Pinto Coelho (que se apressou a linhar com André Ventura), revelaram-se demasiado inconsequentes e frouxas. Mais do que uma palpável relevância política o trajeto da extrema-direita foi revelado por uma cascata de ‘casos de polícia’.
 
Com o 25 de Abril toda essa Direita que organicamente sustentou a ditadura fascista (não é por acaso que um regime dura 48 anos) apareceu no dia seguinte com roupagens democráticas, abjurando qualquer relação (ligação) com o regime anterior. No mínimo os ditos 'situacionistas' tornaram-se social-democratas e não é de espantar a plêiade de socialistas que inundaram o terreno político nacional, a começar pelo ‘socialismo personalista’ do CDS.
 
O ‘caso de Loures’ é mais uma deriva do partido de Passos Coelho que pretende navegar pelas águas turvas de um remoto PPD, onde o ´popular’ parece disposto a dar lugar a um inefável ‘populismo’. Esta deriva nasce de um vazio programático cada vez mais notório e pungente.
A ‘solução à esquerda’ decorrente das últimas eleições legislativas esvaziou a sua capacidade de prosseguir uma navegação à vista norteada essencialmente por um espúrio pragmatismo, isento de doutrina e enfeudado a interesses financeiros e monetaristas alinhados por uma globalização neoliberalizante, encoberta.
 
Mas não podemos considerar que foi propriamente a ‘solução à esquerda’ que conduziu o PSD a esta situação. Ela remonta à miscelânea de vontades que, ao longo da vigência do regime democrático, o partido dirigido atualmente por Passos Coelho se empenhou em conjugar – à revelia que qualquer denominador comum ideológico – para ‘assaltar o pote’, isto é, governar.
O PSD do presente não se revê propriamente como uma formação político-partidária ‘clássica’, mas antes como uma ‘associação clientelar’ representativa de bissetrizes concertadas de variados e múltiplos interesses.
 
Quando a atual solução governativa retirou o tapete à coligação PSD/CDS para prosseguir uma governação ‘pragmática’, a que se julgava com direito, ficaram à mostra todas as misérias.
Hoje o PSD, na oposição, não revela projetos, vontades políticas ou soluções alternativas capazes de mobilizar os portugueses e refugiou-se na representação de uma marginal ‘provedoria conclavista’ que pretende transformar toda e qualquer medida governamental numa situação, no mínimo, suspeita.
 
Foi assim com a CGD, com os incêndios, com os roubos de material bélico, etc., só para falar dos casos mais recentes. Não ocorre qualquer ato executivo deste governo que não seja confrontado com uma proposta de uma audição, instauração de um inquérito, de uma audição parlamentar, etc..
Esta atitude eminentemente (exclusivamente) potestativa, pelo uso e abuso do poder de interpelar por tudo e nada o Governo, só evidencia o vazio de ideias.
Pior, será o facto de esta chicana estar a esconder políticas que se envergonha de explicitar. Ninguém ficou a saber, por exemplo, em relação à CGD, se o PSD estava (ou está) contra a recapitalização do banco público ou se continua com a ‘fezada’ de, um dia, vir a privatizar esta instituição financeira (que já delapidou de alguns dos seus activos).
 
Claro que esta postura de oposição não tem dado resultados políticos (internos) e nas sondagens (eleitorais). Não tem desgastado o atual Governo que – apesar do anúncio de diabólicas catástrofes – tem tido visível êxito no campo económico, social e orçamental. A mudança de atitude, face aos medíocres resultados desta estratégia oposicionista, está à vista. Passos Coelho vai tentar ‘experimentar’ uma nova fase política para o seu partido.
A ‘deriva populista’ à volta do franco-atirador André Ventura, apesar do clamor de repúdio que suscitou num amplo espectro democrático (mesmo no interior do seu partido), vai ser posta à prova, sob o alto patrocínio do dirigente do PSD link.
 
Mais uma vez nada de novo. O chamado ‘período de resgate’ (2011 a 2014) foi povoado por um sem número de sofismas autopunitivos e experimentações avulsas de redenção (pelo sacrifício) que traumatizaram a sociedade portuguesa confrontada com o desplante ‘máximo’ de que um empobrecimento abrupto e aprofundado era libertador (espiador) dos erros passados e estimulante para o crescimento económico.
O presente – que passou pela rápida reversão das medidas austeritárias - desmentiu cabalmente esta peregrina e bacoca estratégia (passista), grotescamente transcrita da cartilha neoliberal.
 
Todavia, o dirigente do PSD, está novamente alinhado com o protagonizar de ‘novas experiências’ muito mais graves quando observadas no contexto democrático. É a 'via do desespero'. Em Outubro será julgado por este ‘novo alinhamento’ que se mostra empenhado em ensaiar no concelho de Loures.
 
Todo o empenho e a obsessiva persistência que o PSD tem colocado nos repetitivos protestos parlamentares poderá soçobrar às portas de Lisboa. Mais concretamente em Loures.
Resta esperar para assistir aquilo que poderá ser um anunciado ‘fim-de-festa’…

Comentários

É a direita Correio da Manhã que apresentou pela primeira vez o candidato CM. O autor é um colaborador do DN.
e-pá! disse…
O candidato, ao que suponho, professor universitário, além de comentador desportivo, colunista em diversos jornais, escreveu 'a meias' um livro com a taróloga Maya.
Um caldo de cultura imbatível para uma carreira de 'populista'.

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