May and his (owner) way…

A estratégia de governação do Partido Conservador britânico, atualmente dirigido por Theresa May, sobre os problemas decorrentes da consolidação do Estado Social, perante o envelhecimento populacional, é repugnante.
 
A chamada ‘taxa da demência’ ('dementia tax') link inscrita no Programa de Governo Conservador pela mão de Theresa May, sob a denominação genérica de U-turn (mudança), causou tanto furor que foi posta em banho-maria, 2 dias após o anúncio. Bem, o banho-maria não é um real ‘U-turn’ mas  fica, desde já, prometida uma discussão pública e o governo – considerando-se mandatado pelos eleitores – fixará os tetos dos copagamentos.
Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, desafiou Theresa May a explicitar os ‘limites’ de incidência fiscal a partir dos quais incidirá a taxa link . Ingloriamente.
 
Na realidade, o que Theresa May veio propor, em nome do Partido Conservador, é um ‘limite’ (que quer ‘absoluto’) a partir do qual as prestações sociais afetariam monetariamente (seriam endossados custos) a população idosa (mais necessitada desses auxílios).
Esse limite já foi - no tempo de Cameron - definido e fixado no valor de £ 72.000 mas a crise económico-financeira que ainda varre o Velho Continente ‘adiou’ a sua aplicação para 2020.
 
Análises prospectivas revelam que para a assistência social a um idoso possuidor de residência própria (o valor médio britânico é de £ 217.500) e poupanças na ordem das £ 20.000 se o limite fosse as 100.000 libras (como foi sugerido no Manifesto Conservador) os custos dos cuidados representariam 42% do valor da sua propriedade.
Isto é, o Reino de Sua Majestade prepara-se para participar nas partilhas familiares reivindicando para si uma parte de leão (em ‘compensação’ pelos cuidados prestados). Todavia, os britânicos já comparticipam a assistência social mas a presente proposta conservadora vai mais longe e indicia que os idosos teriam de chegar ao absurdo e vender as suas habitações para assegurarem os cuidados domiciliários.
 
Até os Democratas Liberais (Lib Dem) em que a filosofia liberal fundamenta a sua ideologia (e a propriedade privada é o cerne da sua doutrina) se rebelam contra esta taxa e aconselham aos eleitores a não serem incautos.
Os Lib-Dem calculam que com a ‘dementia tax’ 90% das habitações mudariam de mãos o que, convenhamos, seria um bom ‘negócio’ para animar o sector imobiliário à custa do abandono da assistência aos idosos (dementes e portadores de doenças oncológicas).

Limitar o consumo de combustível no Inverno aos mais pobres e tomar como baliza (penhorável) a casa onde residem os mais vulneráveis são dois parâmetros condicionantes para os cálculos do esforço privado nos apoios sociais. Será muito difícil não ver aí uma discriminação e um atentado à universalidade destes cuidados num País que é internacionalmente referido como paladino de um Serviço Nacional de Saúde (National Health Service).
 
Os cuidados domiciliários – segundo o Manifesto eleitoral Tory – seriam comparticipados pelos utentes que tivessem um património imobiliário e outros (denominados como ‘activos’) num valor superior a £ 100.000.
Segundo os especialistas este artifício orçamental (de contenção de despesas) sobrecarregaria ainda mais os já sobrelotados Hospitais porque, transferiria utentes dos cuidados domiciliários para serviços de longa duração hospitalares. Em princípio não seria um bom negócio a não ser que tudo fosse taxado (o que parece ser o programa oculto dos Tories).
 
O acesso aos serviços públicos ficaria assim condicionado por três parâmetros: onde mora, o que pode pagar e o que ‘estaria errado’ com o utente (…provavelmente, segundo a lógica, conservadora já ‘deveria’ ter morrido).
 
Na verdade a linguagem da Srº. Theresa May é sobejamente conhecida nos círculos democráticos europeus e veementemente reprovada por todos sectores de Esquerda e mesmo demoliberais.
Trata-se de malabarismos contabilísticos e monetaristas à volta da sustentabilidade (meramente orçamental e despida de qualquer contexto social).
 
Mas o problema é outro, isto é, o inelutável envelhecimento da população (na próxima década existirão mais 2 milhões de britânicos com mais de 75 anos) e a 'solução' (final?) é catastrófica: ou promover os co-pagamentos ou então o colapso.
 
Onde e quando – no nosso País - já ouvimos isto?
 
A deriva neoliberal dos Conservadores, sob a batuta de Theresa May, é assustadora. O que se desenha na pátria de William Beveridge é vergonhoso.
A senhora May chega à chefia do Governo britânico na sequência do Brexit. Na campanha do referendo para o Brexit a Direita proclamou que a saída da UE traria maior capacidade de investimento no NHS. Foram adiantados números da ordem dos milhões por semana link.
 
O Manifesto Eleitoral Tory de 2017 que incorpora a ‘dementia tax’ mostra como essa predição (ou perdição?) eleitoral ‘vai fazer o seu caminho’('our way').

Comentários

A Senhora May é uma Thatcher radicalizada nas madrassas do PPE.
Jaime Santos disse…
Acho que May não tem nada a ver com o PPE e se alguém radicalizou este último foram os Conservadores britânicos. Fica no entanto a pergunta que alguém colocou recentemente no Guardian. Pode um País oferecer níveis de proteção social dignos dos Estados Nórdicos com níveis de fiscalidade semelhantes aos EUA? Claro que não pode. De onde, ou os impostos sobre o rendimento e o consumo são aumentados para fazer face ao envelhecimento da população (e resta saber se se conseguem daí extrair os recursos necessários), ou então não há como dar a volta e é necessário introduzir os ditos co-pagamentos, ou seja, caberá às pessoas pagar pelos cuidados na velhice quando podem. Os Alemães, se não estou em erro, há muito que introduziram um imposto ecológico que se destina também a suportar as reformas. Eu sou a favor de tal coisa. Mas as pessoas não se podem depois queixar que a gasolina é cara ou a eletricidade é cara... Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal...

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