Uma inexplicável estratégia à volta de Palmira

Palmira (Síria) - Arco de Triumfo

O Daesh ‘revisitou’, há 2 dias, Palmira link por obscuros motivos estratégicos. Ontem, pela madrugada, voltou a retirar antes que fosse um alvo fácil para as tropas de Assad e a aviação russa link .
 
Ora, estes novos desenvolvimentos do Daesh não são passeatas pelo deserto, nem meras manobras de diversão. Na realidade, e apesar da grande ofensiva internacional (multilateral, entenda-se) contra o Estado Islâmico, organização fundamentalista que perde terreno todos os dias, os jihadistas querem acentuar e demonstrar a extrema volatilidade da situação síria.
 
Em primeiro lugar, o impacto histórico de Palmira. Trata-se de um mais orientais marcos civilizacionais do Ocidente no Médio Oriente, uma importantíssima (no passado) encruzilhada comercial entre o Oriente e Roma e, finalmente, um repositório arqueológico que agrupou (muitas terão sido barbaramente destruídas durante a recente ocupação do Daesh) marcas monumentais desde o neolítico, passando pela época mesopotâmica e prolongando-se pelas civilizações helenísticas, romana, bizantina e islâmica. Não é um sítio qualquer.
 
Por outro lado, trata-se de uma localidade quase às portas de Damasco (± 250 Km). A ocupação de Palmira só por si coloca o regime de Assad a ferro e fogo. Daí a volatilidade da situação síria não propriamente no terreno militar mas mais concretamente em relação ao controlo do País e à preservação das acuais fronteiras.
 
Depois, o aspeto de investimento geoestratégico. O brilhante passado de entreposto comercial poderá transformar-se numa fulcral encruzilhada petrolífera se começarmos a olhar para a rede de gasodutos que estará a ser desenhada para essa região.
 
A acção de reocupação de Palmira é, sob o ponto de vista militar, um tanto, ou quanto, suicida, já que a progressão de forças armadas através do deserto, sem cobertura área, está condenada ao fracasso.
Todavia, esta acção não deixa de ser um aviso sobre as pretensões regionais em confronto que visarão o ‘esquartejamento’ da velha Síria.
 
Os tempos que vêm aí esclarecerão as intenções políticas e desmontarão até que ponto as estratégias do Daesh se encaixam noutros interesses que sub-repticiamente se jogam no Médio Oriente.

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