Dario Fo


Desapareceu um dos homens do Teatro que marcaram o século XX. Um vulto que ombreou com os maiores dramaturgos desse século como Stanislávski, Brecht, Ionesco, Artaud, Grotowski, Pirandelo, Boal, entre outros.

Foi um autor completo (dramaturgo, actor, encenador e empresário) que, apesar do controverso episódio da ‘República de Saló’, integrava - um pouco anarquicamente - a Esquerda italiana e marcou presença na arte progressista europeia.
Esta uma das razões porque só começou a ser representado, em Portugal, depois do 25 de Abril. Todavia, há muito que a sua vasta obra teatral era conhecida e influenciava ‘em surdina’ o teatro português, nomeadamente, o Teatro Independente e o Universitário.

Não admira, portanto, que uma das primeiras representações do autor tenha sido uma colagem de textos (que integrava diversos autores) levada à cena pelo TEUC, em 1975.
A memória que guardo desses tempos à volta de intermináveis discussões sobre a necessidade de um teatro estudantil novo, de ‘agit-prop’, são culturalmente relevantes e intelectualmente gratificantes, por revelarem opções conscientes, ideologicamente fundamentadas – para a vida -  no domínio da Arte e da Estética.
Obras suas como “Não se paga, não se paga” (T. da Cornucópia, 1981) e “Ouçam como eu Respiro” (Novo Grupo, 1982) ficaram na memória dos portugueses.

Foi um mestre do teatro satírico, de intervenção e da provocação. Foi simultaneamente um insígne ‘commedianti’, um brilhante ‘fazedor de Teatro’.
Uma conjugação - na mesma personagem - de talentos raros, nos difíceis tempos que correm, em que a Cultura continua a ser a madrasta dos ‘equilíbrios orçamentais’, uma opção política que nos vai empobrecendo diariamente.

Recordo uma das suas frases emblemáticas: “A sátira é a arma mais eficaz contra o poder: o poder não suporta o humor, nem os governantes que se designam democráticos, porque o riso liberta o homem dos seus medos”.

Este suave perfume anarquista esgrimido contra os males do presente (o exercício do poder  e os medos) é verdadeiramente revelador da sua personalidade criativa e é uma ‘marca de água’ de um Homem perante o qual a Cultura Contemporânea contraiu, ao longo de decénios, uma impagável dívida.
 

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