G 20

A mais recente reunião dos G 20 manteve-se na senda da continuidade sendo difícil sublinhar alterações de rumo. Nada de novo ou de ambicioso saiu da cimeira de Hangzouh (China).

Muitos dos países considerados como ‘emergentes’, nos últimos tempos, só viram emergir resultados desastrosos, isto é, ou a travagem brusca do crescimento, ou a recessão.
Algumas das ‘emergências’, no firmamento dos potentados económicos, de há poucos anos atrás, diluíram-se com a queda dos preços do crude e o esmagamento de valores na bolsa das ‘commodities’, mostrando como o desejável e ansiado desenvolvimento, sustentáculo das políticas nacionais, regionais ou locais, está exposto a (ocultas) estratégias económicas e financeiras globalizantes que são urdidas e aplicadas, em clubes muito restritos (G 7, Club Bilderberg, p. exº.), portanto, fora de cimeiras tão alargadas e, aparentemente, mais ‘democráticas’.

O comunicado emitido pela UE acerca da cimeira de Hangzouh, que terminou a 05.Set. 2016, contendo 48 itens link, pouco de novo acrescenta ao status quo que, face à crise larvar, tem conduzido o Mundo a um crescimento débil, anémico e assimétrico. 

As preposições gerais sobre um desenvolvimento global ficam muito aquém das concretas necessidades nacionais ou regionais e passam ao largo de estratégias equilibradas. As ‘agendas de crescimento’ – nomeadamente em relação a África - confundem-se com tácticas expansionistas restritas e exploram oportunidades voláteis do momento e dos mercados.
Continuam a ser postergadas para o vazio das intenções medidas concretas e aplicáveis que regulamentem, com efectividade e justiça distributiva, o sistema financeiro e fiscal. Na verdade, uma ‘economia mundial aberta’ (item 6. do citado comunicado) não se compadece, nem é viável, com o actual sistema financeiro.
 
Quando se exprimem intenções com vista a ‘civilizar a economia’, ou melhor ‘civilizar o capitalismo’, falta admitir o pressuposto de que temos vivido tempos de ‘selvajaria’ e explicar como, e em que circunstâncias, tal tem ocorrido.
 
A conferência ao abordar o impacto do terrorismo no desenvolvimento económico, passa ao lado de questões essenciais e centra-se na necessidade de 'incomodar' as fontes de financiamento. E tem o desplante e a desfaçatez de fazer estas propostas nas barbas do representante oficial da Arábia Saudita (Muhammad bin Salman Al Saud).
 
Sobre os mercados de trabalho continuam a ser propostos um conjunto de boas intenções (inclusão das mulheres e dos jovens), sem resultados práticos, a que acrescentam uma nova nuance (um pouco ao estilo de Passos Coelho) de que a emigração deve ser encarada como uma ‘oportunidade’.
 
Perante o insucesso da gestão de uma crise, que dura há mais de 8 anos, pouco ou nada se propõe quanto à questão fundamental com que nos defrontamos e que diz respeito ao insuportável crescimento e acentuação das desigualdades económicas e sociais, não só dos Países, como fundamentalmente de um largo e galopante número de cidadãos (nacionais ou do Mundo, como queiramos encarar).
 
Deixou de ser possível (ou credível) falar de empreendedorismo, competitividade e sustentabilidade como ‘motores’ de criação de riqueza e de desenvolvimento sem estabelecer regras concisas e consensuais sobre o modelo e timings de redistribuição dos benefícios a alcançar. Estas duas premissas são inseparáveis e ninguém aceitará que sejam diferidas no tempo, nos programas governativos e/ou nas opções políticas de fundo.
Sem estes pressupostos, a ‘mobilização para o desenvolvimento’ que vive do trabalho, da inovação e do investimento, está seriamente comprometida e os resultados serão sempre desencorajantes. A continuarmos por este caminho as cimeiras G 20 servirão para analisar, contabilizar e confrontar uma cascata de insucessos adaptando-os para manter e defender um suicida status quo em que se vislumbra a permanência de longos e profundos desequilíbrios e, quando muito, proporcionam a agilização da agenda diplomática entre os ‘grandes’.
 
O Mundo – a única e espontânea ‘globalidade’ existente - apesar das diferenças entre os povos, das fronteiras e da febril azáfama de levantamento de muros  – precisa, como de pão para a boca (trata-se de uma parábola), de muito, ... muito, mais.

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