E o País a ir de carrinho (*) …

Os portugueses estão confrontados com mais um enigma político.

Donde provem o ‘espírito ganhador’ e, segundo as sondagens, um 'percurso avassalador' da candidatura de Marcel Rebelo de Sousa?

Deixando de lado questões como a ‘geração espontânea’ melhor será recorrer ao escrutínio racional para perceber o fenómeno. Porque, na realidade, trata-se de um fenómeno.

Sendo Marcelo uma personagem política com um percurso como dirigente partidário extremamente sinuoso e relativamente efémero – pouca gente se recordará da ala PPD designada por ‘Nova Esperança’  e da sua posterior passagem como presidente do PSD - de algum lado surgirá a sua presente ‘performance eleitoral’.

No círculo partidário que aparentemente nada terá a ver com a eleição presidencial – e o aparente deveria ser interiorizado pela Esquerda – não existem apoios substantivos apesar da recente rábula divulgada sob a forma de surda ‘recomendação’. No passado, as ‘cartas de recomendação’ eram um adorno dos despedimentos e uma eventual porta para um novo emprego. Agora são a evidência de soluções para as quais não há outra saída. Um embelezamento pacóvio para factos consumados.

Na verdade, a Direita na altura da recomendação ainda formalmente coligada não perde uma oportunidade ‘ganhadora’.

Passos Coelho, classificou-o como um ‘catavento de opiniões erráticaslink – ninguém está isento de ter um acesso de lucidez – e exorcizou-o num recente Congresso partidário (2014). 

Aliás, a sombra de Marcelo como candidato presidencial vem de longe e estaria a ser congeminada há muito tempo. Em Novembro de 2010 (ainda Cavaco não tinha sido reeleito para o 2º. mandato) já estava a posicionar para a actual candidatura link.

Por outro lado, um dos seus actuais 'apoiantes', Paulo Portas, tem em relação ao candidato um antigo parti-pris, que ultrapassa o  domínio gastronómico, engalanado sob a forma de uma putativa sopa ‘vichyssoise’ (que se serve fria) e que não esconde a sua fantasiosa mania de omnipresença e omnisciência habituado (viciado) a opinar sobre tudo e todos e a gerir seletivas entregas de fantasiosas e intriguistas 'informações confidenciais' aos órgãos de comunicação social, de acordo com agendas mundanas.

Mas esta última abencerragem diz respeito à informação e aos circuitos que o actual dirigente do CDS alimentou enquanto jornalista do Independente e teve por fonte Marcelo.
Aliás é interessante (re)ver o vídeo link onde Portas conclui que o actual candidato à Presidência da República 'não é uma pessoa confiável'.

Mas, igualmente, no âmbito da comunicação social inserem-se as questiúnculas entre Marcelo e Pinto Balsemão que passam pelo célebre episódio da inscrição na rubrica Gente da seguinte boutade (que designa como um ‘vaipe’): “O Balsemão é lélé da cucalink.

No campo político – é o que interessa - sua participação no Governo de Pinto Balsemão não revelou (enquanto ministro dos Assuntos Parlamentares) grandes dotes políticos, acabou mal (desertando após a derrota nas Autárquicas) e com grande espalhafato jornalístico (capa do DN) e, finalmente, arrastou na sua manobra o VIII Governo Constitucional.

A par da carreira académica (Faculdade de Direito da UL) e de jornalista (Expresso e Semanário) dedica-se a uma longa, e algumas vezes atribulada, actividade como comentador político em vários órgãos de comunicação social (TSF, TVI e RTP) sob a forma de homílias dominicais em que exerce uma função de 'equilibrista' face aos Governos de Direita e de crítico e de crítico viperino  e manhoso nas outras circunstâncias. Uma duplicidade de comportamento e carácter que nunca conseguiu esconder ou disfarçar.

Presentemente pretende destacar-se de Cavaco Silva mas, na realidade, foi o homem que, com a ‘ala Nova Esperança’, abriu - no célebre Congresso da Figueira da Foz - dentro do PPD/PSD as portas à longa, fastidiosa e mesquinha carreira pública do político de Boliqueime.
Mais tarde estaria no restrito núcleo de proponentes de Cavaco Silva à Presidência em 'serões prandiais e espíritas' (em casa do Espirito Santo). 

Em resumo: Marcelo foi (tem sido) um homem dos 7 ofícios - menino que escreve missivas ao homónimo Caetano, jornalista, homem do aparelho partidário, académico, comentador, conselheiro, insaciável leitor noctívago, criador de factos políticos, conferencista, nadador, etc.

Na realidade, os portugueses estão a ser convocados para eleger um diletante para a Presidência.

Cabe aqui a pergunta de que foi colocada a Richard Nixon em 1960: "Você comprava um carro em segunda mão a este homem?"

Ou outra: quem aceita ser conduzido por este taxi-driver (foto)?

(*) – Alusão a uma cantiga de Zeca Afonso: “O País vai de carrinho…” .

Comentários

Jaime Santos disse…
A Marcelo não lhe compraria nem uma bicicleta. De resto, assino por baixo. Mas o homem não é só um diletante. É igualmente um imaturo e o País faria bem em livrar-se desses. A este respeito, a anunciada não recandidatura de Portas a líder do CDS é uma boa notícia. Quanto a Passos Coelho, a caracterização que fez de Marcelo Rebelo de Sousa mostra que, podendo desprezar-se as ideias e o percurso do anterior PM, é preciso reconhecer-lhe lucidez, inteligência e determinação (que é o que o torna tão perigoso).

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