Cavaco e as aldeias históricas


Na pungente digressão, por aldeias prenhes de história e vazias de gente, fez o viajante o elogio da obra que diz ter realizado e da coligação que teimou em manter no Governo. Foi maior a comitiva do que a receção e mais animado o visitante do que os visitados.

No lúgubre encontro com os que restam nessas aldeias não percebeu o visitante a vida que definha no país que ajudou a privatizar e a perder a identidade. Foi uma reunião de espetros, sombras de um país que morre e a assombração da sua derradeira aparição.

Serviu-lhe de consolo o pensamento do mundo rural onde foi. Um e outro mantêm-se no segundo quartel do século ido, quando uns se matavam à sacholada por um rego de água e outros à facada por uma leira de terra, durante as partilhas. Todos abominam a política e os políticos. Isso dos partidos é para ladrões e oportunistas. Quando não é único.

No ocaso das funções, com as luzes do palco a extinguirem-se, ouviu ainda o viandante as palmas rituais dos que insistem em não morrer a quem teme não ter mais vida.

Ainda lhe disseram, bem-vindo ‘insigne visitante’, nas aldeias é sempre insigne quem as visita. Se a viajata se invertesse, e fossem os anciãos de mãos calejadas e pele curtida pelo sol a despedirem-se em Belém, teriam gritado, com ar sofrido de quem se resignou ao abandono, adeus ‘insignificante’.


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