Portas e Coligação: caminhos ‘de futuro’, mas não propriamente ‘com futuro’…

Nasceu um novo partido político: o celebrado ‘Portugal à Frente’. Trata-se de uma coligação eleitoral que, em princípio, deveria dissolver-se com o acto eleitoral. Na realidade, passou a fazer ‘jornadas’ link. Por duas razões: Primeiro, porque pouco mais de 1 mês após a ida às urnas está empenhada na sua repetição (chama-lhe ‘Caminhos do Futuro’); segundo, porque o CDS imerso nas suas contradições dissolveu-se na voragem neoliberal e deixou de ter vida própria.
Estas duas razões são importantes para compreender a actual estratégia da Direita. 
A primeira razão traduz a constatação de que a actual Europa – de dominância do PPE - tenta sempre que as eleições quando não correm bem (na perspectiva dominante) deverão ser repetidas, as vezes necessárias, até obter o resultado desejado por Berlim. Foi assim na Grécia e com o PASOK. 
A segunda razão tem a ver com a arrumação partidária que a situação europeia pretendeu operar, isto é, a completa desorganização da Esquerda, que passaria pela pura destruição da corrente social-democrata, debilitada em toda a Europa e vítima de contradições internas, nomeadamente, na esteira do ‘liberalsocialismo’.

Os programas europeus ‘de estabilidade e crescimento’ centrados em vergonhosos e impositivos ajustamentos mais não trouxeram do que um violento empobrecimento que radicalizou as opções políticas e reflectindo-se na arrumação da vida partidária.
De concreto, o CDS colocou-se sob a tutela do PSD, perdeu completamente a identidade e alijou borda fora quaisquer veleidades demo-cristãs afundando-se no vasto mar do neoliberalismo. 
Quando se ouve a Direita ‘protestar’, nomeadamente os arreganhos de Portas, temos a nítida sensação que estamos perante o anúncio de um naufrágio. De todas as ‘geringonças’ envolvidas são muito prenunciadoras da eminência de um afundamento. Hoje, existe a noção de que a crise que Portas provocou em 2013, e aparentemente conferiu força guindando-o a vice-primeiro-ministro, teve custos internos incomportáveis, levando ao estertor do CDS. É aí que está o verdadeiro ‘prato de lentilhas’.

Todavia, o que incomoda realmente a coligação de Direita são as mudanças políticas que ocorrem um pouco por toda a Europa. Principalmente as não previstas, nem controláveis e que anunciam um fim de ciclo. Na realidade, a Esquerda em Portugal soube conter o processo de radicalização em curso e adoptar uma posição objectivamente realista face ao descalabro europeu e tendo em conta a correlação de forças existente no terreno.

E a Esquerda aparece, aos olhos dos portugueses, capaz de manter autonomias partidárias e doutrinárias (coisa que o CDS não perdoa) e, paralelamente, sustentar, no Parlamento e perante a comunidade europeia e o Mundo, um programa de Governo genericamente classificável como moderado, objectivo e conforme às balizas constitucionais cujo eixo fundamental é o empenho, vontade e capacidade em recentrar as instituições democráticas na valorização e bem-estar das pessoas, do trabalho e dos direitos, à revelia dos interesses imediatos do globalizante sistema financeiro.
É esta uma resposta séria, inteligente e capaz, com ingredientes de sucesso o que realmente incomoda a Direita e a faz assumir o papel de virgem púdica a barafustar no interior do prostibulo que criou. A geringonça mais uma vez está aí.

A Direita sabe que a valorização do trabalho, a reposição de ordenados, pensões e prestações sociais vai reanimar de modo significativo a economia (sem resolver as contradições do sistema) mas, em contrapartida, aumentará os riscos do grande capital que se alegremente se tem dedicado à especulação financeira, aos jogos de casino. É essa perspectiva de sucesso que tanto a perturba.

A Direita está agitada, apressada, possessa e tudo fará, desde Fóruns, Congressos, Colóquios, Coligações, Manifs, etc., para fazer fracassar a (tímida e condicionada) resposta de Esquerda. E o ‘tudo’ significa que não hesitará em trair os ‘interesses nacionais’ que, na habitual e farisaica retórica nacionalista, tanto idolatra. Mas constata também que perdeu um suporte fundamental para fazer vingar o seu programa e a sua influência no País. 
No passado dia 11 de Novembro foi arredada do controlo do aparelho de Estado e com isso perdeu irremediavelmente força e protagonismo. 
E o despeito perturba a clarividência, a (com)postura e faz figuras como Paulo Portas exibir, como sucedeu no fórum do Porto, a face do desespero.

Comentários

Tiro o meu chapéu a esta limpidez e correcção. A guerra que o desespero desta gentalha viciosa e parasita está a desencadear será dura, e o canal de navegação é estreito. Mas lá vamos, nem há outros caminhos.
Este seria mais um dos momentos da História em que os fidalgotes se passariam p/ Castela, se ainda lá houvesse o Filipe II, que os herdou, os conquistou e os pagou.
Eles já não se lembram, se o souberem, daqueles tristes, lastimosos, desventurados e infelizes casos e destinos havidos com o Senhor Conde de Andeiro e o dom Miguel de Vasconcelos, que deram no que deram, os coitados!
Caro Jorge:

É límpida a prosa e imaculado o pensamento no comentário que esteve à altura do autor da prosa que por aqui, nos caminhos esotéricos da NET, dá pelo nome de 'post'.

Abraço de Coimbra até à Lapa.

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