Cavaco Silva e a democracia


Não podia exigir-se a Cavaco Silva, cuja candidatura ao primeiro mandato de PR nasceu em casa de Ricardo Salgado, acolitado por Marcelo Rebelo de Sousa e Durão Barroso, que se tornasse uma referência democrática.

O que devia exigir-se a quem jurou a Constituição da República Portuguesa, na piedade que o exorna, era um módico de respeito pelo compromisso cuja violação é uma nódoa que nenhum arrependimento absolve nem a mais severa penitência redime.

Quem se intrometeu obstinadamente na última campanha eleitoral, recorrendo às mais primárias ameaças, admoestações e chantagem, não podia, depois de conhecidos os resultados, ir além da tentativa desesperada de dividir o grupo parlamentar do PS. Valeu na circunstância o primarismo da raiva e o canhestro apelo para prestar o único serviço relevante, retirar espaço a quem eventualmente fosse capaz de trair o partido.

O país deve responsabilizá-lo pelo prolongamento escusado, até ao limite, do mandato do Governo de que foi vassalo, sabendo que a necessidade de elaborar um Orçamento de Estado para o País, e para enviar a Bruxelas, era uma tarefa urgente do governo seguinte.

Levou-o o aventureirismo e falta de sentido de Estado a ameaçar que não daria posse a um Governo que não lhe garantisse estabilidade, certo de que deslocaria alguns votos do eleitorado para a ultradireita com que se mancomunou.

Foi certamente, na convicção de que o governo extremista de Passos Coelho seria eterno que se apressou a convidá-lo primeiro, antes de ouvir os partidos, a indigitá-lo depois, e, finalmente, a dar-lhe posse como PM.

O governo nado-morto durou o que se sabe mas o rancor do mais sectário inquilino de Belém, desde o 25 de Abril, continuará a corroê-lo.

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