Prémio Champalimaud da Visão e Cavaco Silva

O prémio vai ser entregue esta tarde na presença de Cavaco Silva o homem mais sério de Portugal, que exige que nasça duas vezes alguém que possa ser mais sério do que ele, apesar do nebuloso negócio de ações da SLN/BPN, da brumosa permuta de vivendas e da insólita intriga das escutas nascida na sua Casa Civil de conluio com uma referência   ética do jornalismo e da política, José Manuel Fernandes.

O catedrático de Literatura pela Universidade de Goa é um homem singular. A presença na entrega do prémio sobre a visão, e não sobre a cegueira, afigura-se tão insólita como a aceitação da cátedra de Literatura, bem diversa da presidência da Comissão de Honra da Canonização de Nuno Álvares Pereira, desonra que a  Igreja católica impôs ao herói de Aljubarrota com um milagre pífio a interromper-lhe a defunção.

O anúncio da sua presença num prémio sobre a visão, trouxe-me à memória o notável romance de Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira, surpreendendo-me que a mulher do médico não o tenha referido, que Saramago, que o conhecia bem porque o seu Governo lhe censurara O Evangelho  Segundo Jesus Cristo, não o tenha eternizado como marido de Maria ou chefe do Censor, à semelhança do que ali fez com as outras personagens a quem substituiu os nomes pelas características e particularidades.

Perante a benevolência dos portugueses para com Cavaco Silva, no seu pungente ocaso, torturam-me as palavras de Saramago no seu inconfundível estilo onde o discurso direto se mistura com o indireto:

“Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem”. (In Ensaio Sobre A Cegueira)

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