Grécia: até ao lavar dos cestos é vindima...

O drama grego e, concomitantemente, o futuro da UE, estão cada vez mais decifráveis e previsíveis. 
Não são bons os sinais que vêm de Bruxelas, como não será fácil o caminho a trilhar pelo povo grego, na sequência dos últimos acontecimentos.

Perante a situação criada – ao longo de 5 meses de negociações - à volta de o fecho do 2º. resgate da Grécia existe uma evidência (existem muitas outras!). Uma das primeiras ilações a tirar deste abrupto desfecho foi o Eurogrupo prosseguir, com olímpica fleuma e sem pestanejar, os trabalhos da parte da tarde (depois da retirada do ministro das Finanças grego da reunião), mostrando que tudo estava previamente arquitectado (para o esticar da corda). 
Os ministros dos países europeus que integram o Eurogrupo, para prosseguirem os seus planos, não necessitaram de consultar os respectivos governos. Significativo.

O facto de ter ocorrido na Grécia uma mudança de Governo, que incorpora uma substancial alteração política, motivou os parceiros europeus para o confronto que, ontem, acabou da pior maneira possível link. As condições inerentes a este resgate ainda em curso foram negociadas pelo Governo anterior (presidido por Antónis Samarás, da Nova Democracia) e, segundo era suposto, foram previamente definidas pelo que é difícil de perceber as justificações para um tardio 'endurecimento''. 
Na recta final do referido programa de assistência financeira resolveram os membros do Eurogrupo, do BCE e o FMI alterar as regras do jogo. Não se tratava de um novo resgate que de resto se mostra - face ao descalabro dos anteriores - ser imperativo. 
Tratava-se (tratou-se) de esconder o insucesso das sucessivas intervenções decorrentes da concertação entre a batuta europeia, o BCE e o FMI.

O novo Governo grego acossado pelo arsenal político ultra-conservador europeu ensaia um caminho de fuga às sucessivas armadilhas e resolve questionar do controlo burocrático de Bruxelas avançando para um referendo. A exemplo, aliás, do que já tinha sido tentado pelo governo do PASOK, dirigido por Georges Papandreau link, em funções na fase inicial da intervenção externa, face a um impasse negocial do mesmo tipo.

Nada no contexto europeu está resolvido, nem sanado, nem sequer dimensionado no seu âmbito e consequências. Pelo contrário, o recurso a um referendo tem para os burocratas europeus dois pecadilhos: 
1 - primeiro, trazer para o imbróglio, criado e alimentado nas reuniões do Eurogrupo e do Conselho Europeu, o recurso a uma solução referendária link (nunca desejada no seio oligarquia europeia); 
2- segundo, afrontar os arranjos no interior da UE que sustentam o princípio da ‘não alternativa’, da  ‘teoria de vacina’, da ‘austeridade redentora’, etc.

Caricata é. para terminar, a posição do Governo português. Um país brutalmente empobrecido e exponencialmente endividado no decurso de um ‘ajustamento’, imposto pelos credores, julga-se agora mais ‘resiliente’ (termo da afeição do mundo financeiro) ao assalto e especulação dos mercados. A justificação é: Porque temos os cofres cheios (de dívidas!) link.
Vamos, então, verificar como será o rápido trânsito (alguns meses?) da fanfarronice da resiliência à mais dura e cega obediência. Supostamente, com 'língua de palmo'.

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