A lição dinamarquesa…

O partido populista (DF) de extrema-direita prepara-se para integrar o próximo governo dinamarquês. Até há 4 anos influenciou o Governo de Direita dinamarquês mantendo-se na sombra. 
Os resultados das eleições dinamarquesas mostraram uma viragem à Direita do eleitorado onde os populistas ultrapassaram os liberais (líderes da ‘aliança azul’) e mostram-se prontos para assumir o poder, já que são a 2ª. força política do reino de Hamlet link.
O DF cultivando uma mistura de eurocepticismo e de xenofobia penetrou profundamente no eleitorado dinamarquês.

Repete-se, de certo modo, o que já se verificou nas últimas eleições finlandesas. O ‘cerco neoliberal’, sem rebuço de procurar apoios da extrema-direita, abre um ‘arco escandinavo’ dentro das fronteiras da Europa. Trata-se de um alargamento político da Europa Central em direcção ao Norte com fortes consequências nos equilíbrios económicos e sociais europeus.

Por outro lado, os populistas com a força adquirida nestas eleições vão alinhar na estratégia europeia britânica e forçar a mudança dos tratados europeus através de actos referendários.
A ‘onda referendária’ tem ganho força e ameaça tornar-se endémica. A legitimidade europeia enfraquece a cada passo porque foge de escrutínios democráticos para embrenhar-se numa distante e arrogante burocracia.

O último caso desta deriva é o ‘tratado euro-atlântico’ (TTIP) link que, se algum dia entrar em vigor, pretende passar ao lado de uma transparente discussão pública e afirmar-se sem qualquer tipo de escrutínio directo.

Os parlamentares europeus não estão em Estrasburgo mandatados pelos seus eleitores para decidir a esse nível e não passará muito tempo até que os lobbys burocratas e as elites económicas e financeiras europeias e norte-americanas transformem o ‘tratado’ numa simples parceria, contornando a opinião dos europeus e fugindo ao controlo democrático.

Deste modo, pretende-se montar um gigantesco ‘esquema de rendas ocidental’, que representa 60% do PIB mundial, para contrapor ao crescimento do semi-esclavagista e selvático ‘modelo oriental’, ficando garantidas permanentes transferências dos contribuintes para as multinacionais, à margem de qualquer controlo, nomeadamente, o recurso aos tribunais. Até aqui demos para o peditório do sistema financeiro. Daqui para a frente o que se pretende é estender esse peditório às grandes multinacionais. 
Este trânsito – à imagem do que está actualmente a ser efectuado para o sector financeiro e bancário - passa, para além de um brutal empobrecimento, pelo amesquinhamento dos direitos políticos, sociais e culturais e viverá iludido por números ‘globais’ unicamente referenciados ao ‘mundo empresarial’. Os cidadãos desaparecem de cena.

Se não for posto um travão a esta miserável e capciosa manobra restam duas alternativas: sair do espaço comum ocidental (é no que a extrema-direita europeia emergente aposta) ou, limitar-se a ‘cumprir as regras’ (feitas fora de qualquer controlo), como defende acriticamente o nosso presidente da República.
Bem, na verdade, existe uma terceira alternativa que passa pela ruptura frontal com o desvario neoliberal em pleno desenvolvimento. São os ‘execráveis radicais’ exorcizados diariamente nos órgãos de comunicação social.
Todavia, só esta última alternativa que vive momentos de dificuldades e de percalço e que terá de fazer um longo caminho, será capaz de inverter o rumo dos acontecimentos. Este o drama da Esquerda europeia que terá de regressar ao clássicos teorizadores sobre a indecência redistributiva do modelo capitalista.

Quando olhamos para o panorama político europeu perpassa a sensação que algo de grave e arripiante ensombra o horizonte.

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Gostava de ter sido autor deste texto. Abraço.

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