Dos Budas do Afeganistão ao Estado Islâmico

Há cerca de 14 anos, num país assolado pela miséria, minado pelo fanatismo, devastado pela guerra, as mulheres foram proibidas de aceder à educação e à saúde, compelidas a  observar os mais rigorosos preceitos islâmicos e a renunciar aos direitos mais básicos, com frequência à própria vida.

Aconteceu num país com uma cultura antiquíssima, outrora pujante, onde o poder foi tomado pelos célebres estudantes de teologia, vulgo talibãs, que logo destruíram dois budas gigantes esculpidos em pedra nos séc. II e V (e. v.) com mísseis e espingardas automáticas para que não viessem adorar-se falsos ídolos que “insultam o islamismo”. Foi no Afeganistão.

Em todos os tempos e em várias religiões houve selvagens que entenderam que os livros diriam o mesmo que o livro sagrado, e seriam inúteis, ou diziam coisas diferentes e eram prejudiciais.

A inteligência, a cultura e a sensibilidade não são apanágio de uma só cultura mas são incompatíveis com a mais funesta de todas as misturas: a ignorância, o proselitismo e a fé. E é desta mistura perversa que se faz a infelicidade dos povos, a miséria das nações e a tragédia das sociedades que aniquilam em asfixiante submissão.

Apagam o património cultural da mesma forma selvagem com que anulam as liberdades cívicas e, enquanto a fome, a doença e a miséria devastaram uma população bloqueada pelo terror, o mundo civilizado assistiu incapaz, na sua raiva, a ver postergados os mais elementares valores que são a marca da modernidade.

Os povos não são donos exclusivos do património que conservam e por cuja guarda são obrigados a responder. Os governantes, sobretudo os que detêm o poder de forma ilegal, terão de responder pelos dislates e crimes que cometeram. E têm de ser os homens a julgá-los sobretudo aos que pensam ter apenas obrigações perante Deus. Provavelmente o direito de ingerência encontraria aí plena justificação.

Perante as hordas selvagens que, um pouco por todo o lado, tomam o poder com armas sofisticadas que as grandes potências nunca deixaram de fornecer, exige-se uma nova ordem que liberte do caos e do crime organizado multidões que tiveram o azar de nascer no sítio errado sob o jugo de tenebrosos trogloditas.

Infelizmente, a teologia do beduíno amoral e analfabeto, como Atatürk definiu Maomé, tem sido o escalracho que destrói as searas da cultura, do Afeganistão à Líbia, do Iémen ao Iraque, num imparável contágio rumo às teocracias e ao Estado Islâmico.

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