A Zona Euro face aos ‘novos investidores’…


O Euro/Grupo conseguiu com muita dificuldade, devido às reticências dos países do Norte e Centro, capitaneados pela Alemanha, dar mais tempo à Grécia para definir um caminho alternativo à austeridade. Foi o ‘primeiro passo’ numa nova direcção … link.
Não um passo tão largo como o solicitado por razões de oportunidade (mero cálculo político). O Euro/Grupo trocou os 6 meses solicitados por 4 (um corte de > 30% que parece estar no ADN dos ‘credores’) para que, no fim do prazo agora estabelecido, este ‘Grupo’ não ficar colocado e nem confrontado com as eleições a realizar em Espanha e Portugal, para não falar das britânicas.

A turbulência política que eventuais resultados eleitorais 'anti-austeritários' (existirão diversas saídas)  poderão introduzir no seio deste grupo - que tem comandado os destinos da Zona Euro e imposto severas políticas de austeridade - é o grande enigma resultante das decisões de ontem.

O processo que agora se inicia está impregnado de uma dinâmica própria com incontornáveis repercussões no futuro e está por detrás da enorme complexidade das decisões tomadas ontem em Bruxelas.
Jogam-se vários peões num armadilhado tabuleiro. A UE ‘construída’ sob o Tratado de Lisboa, um expediente encontrado para contornar o modelo de constituição europeia - gizado por Giscard d’Estaing - que começou a ruir nos referendos nacionais, ao meter-se pelos caminhos de uma severa austeridade acabou (não ocasionalmente) por favorecer as economias mais pujantes e minar a «unidade europeia». Estas ‘políticas’ viriam também a recolocar na ordem do dia o ‘modelo europeu’, cada vez mais ameaçado, em sucessivas eleições legislativas nacionais, que adquirem especial significado nos países periféricos.

O 'modelo tutelado europeu' que se acentuou no pós-crise, sempre existiu desde a criação da moeda única (consolidou-se em Maastricht), mas tornou-se especialmente agressivo nos últimos tempos e teve efeitos devastadores nas economias e no terreno social (acentuados pelas cardápio das respostas impostas) entrou numa fase agónica. Os próximos meses (e não exactamente só os 4 pretendidos) vão ser decisivos. Em estado larvar começa a levantar-se uma Europa dos cidadãos que inevitavelmente afrontará a Europa financeira e dos mercados.

O curioso é que a política de resgates indutoras de alterações económicas e sociais de cariz político neoliberal começaram há 5 anos na Grécia e, no presente, são novamente os gregos que exaustos, desgastados e à beira do precipício (crise humanitária) sacodem de novo a pretensa tranquilidade que a Europa financeira desejaria para paulatinamente ‘cumprir o seu plano’.

As políticas financeiras e fiscais mantêm-se fora da estrondosa perversão desenhada pelo sistema político (instigadas por interesses financeiros) e foram designadas de ‘reformas estruturais’.
Por outro lado, tudo o que mudou no sistema financeiro - e haveria muito a fazer - ficou-se por alterações circunstanciais e cosméticas.
A política financeira - fugindo sistematicamente a uma regulação rigorosa e eficaz - acantonando-se numa trincheira que temporariamente conquistou alguns adeptos baseado num conservadorismo impregnado de chavões pseudo-moralistas que levam credores (e os seus lídimos defensores) a considerarem qualquer renegociação ou reestruturação de dívidas um profano e vergonhoso 'calote'.
E o mote foi: quem financia as mudanças políticas e sociais ou as alternativas à austeridade?
A resposta é conhecida apesar de todas as camuflagens. Quem financia são sempre os mesmos. Os credores ‘primários’ (primitivos!) são, sempre foram, os contribuintes europeus.

Terá chegado a hora de colocar condições ao sistema (político e financeiro) no sentido que existir uma justa e equilibrada redistribuição da riqueza produzida para que esta não seja colonizada (absorvida) por ‘transferências’ obscuras dentro do sistema montado pelas instituições financeiras e seus serventuários políticos que a todo o custo ‘alguma Europa’ - com assento nas reuniões do Euro/Grupo - pretende salvar, para preservar o ‘esquema’.
Todavia, começa a sentir-se que se ergue pela Europa um novo grupo de ‘investidores’: os eleitores!

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