Carlos Moedas: uma polémica nomeação


É verdade que a Ciência, a Investigação e a Inovação são áreas importantes para a Europa. Ninguém põe em dúvida esta evidência que, aliás, não se circunscreve ao espaço europeu. É, hoje, uma daquelas verdades universais. Mas partir desta realidade para conclusões enviesadas é mais um abuso deste Governo.

Sejamos claros e directos. O Engº. Carlos Moedas foi ‘enviado’ pelo primeiro-ministro português para Bruxelas como a ‘missão’ de desempenhar um lugar supranacional (europeu) cuja ‘justificação’ seriam suas especiais ‘competências técnicas’. Trata-se de um cidadão que, a partir da sua licenciatura em Engenharia Civil, acrescentou ao seu curriculum o mestrado na área dos Negócios (MBA em Bussiness Administration, Havard), transitou pela direcção (em Portugal e Espanha) de empresas do sector imobiliário (Aguirre Newman) e especializou-se em questões sobre investimentos e transações imobiliárias tendo criado a sua própria empresa Crimson Investiment Management (hoje propriedade da sua mulher) com estreitas ligações com o Grupo Carlyle. Um boy do ‘property financing system’ que se especializou nas tansações de ‘bootstrapping’ (uma técnica de descalçar ‘botas’, agilmente…).
Pelo meio fez como se refere (‘au passant’) no Portal do Governo link, o seu ‘tirocínio’ na Goldman and Sachs em Londres (na área de fusões e aquisições) e ainda no Deutsche Bank (através do Eurohypo Investiment Bank).

A sua actividade política começou, na prática, em 2011, quando negoceia ao lado do ex-ministro Catroga, com o ùltimo Governo de Sócrates, o OE para 2011. Alguns meses depois, na sequência do pedido de ajuda externa integraria a equipa negocial, por parte do PSD, do ‘Memorando de Entendimento’.
Foi candidato a deputado pelo PSD pelo Distrito de Beja (tendo sido eleito) e aquando da constituição do XIX Governo Constitucional (Junho de 2011) viria a integrar o Governo de Passos Coelho, como Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro. A sua acção como governante decorreu com alguma descrição pública mas para os portugueses foi um dos principais e assíduos negociadores dos sucessivos pacotes de austeridade através daquilo que Vitor Gaspar chamava ‘exames regulares’ da Troika.

Quando se olha para este curriculo verifica-se que Carlos Moedas tem o percurso habitual dos gestores e investidores ambiciosos e ‘bem comportados’ mas não dispõe de uma experiência política acumulada com grande significado nacional e, em termos europeus, será um debutante.
Qual a razão política porque Passos Coelho, depois de um simulacro de auscultação ao PS, resolveu candidatá-lo a um cargo executivo na Comissão Europeia?

É muito difícil deslindar os critérios subjacentes a estas indigitações. Partindo do princípio, que julgo adquirido, de que o PS não subscreve esta proposta o que lhe retira qualquer propósito ‘consensual’, parece-me um pouco inexplicável e despropositado - quando se lê a ‘carta de missão’ que lhe foi dirigida por Juncker link) - o realce das capacidades políticas e experiência do recém-nomeado comissário Moedas (‘your political skill and experience’… ).
Bem, o termo utilizado pelo novo presidente da Comissão Europeia - “skill” – significa, em primeira linha, ‘habilidade’. São aqueles ‘dons’ que infestam a classe política. A discrição e o mutismo que rodeou todo a azáfama de Carlos Moedas no Governo português não permitem desvendar as 'habilidades' que irão revelar-se enquanto comissário da Ciência, Investigação e Inovação.
Como habitual interlocutor da Troika e negociador (receptador) das medidas que conformaram o ‘programa de resgate’ e levaram à execução de uma 'estratégia de empobrecimento redentor’, as suas 'habilidades' não deixaram grandes saudades, nem o neófito comissário se salientou por méritos políticos que mereçam registo futuro.

É justo esperar que a nova comissão não seja um team de ‘habilidosos’. Todos sabemos a conotação que este termo tem na sociedade portuguesa e na política. Os europeus não estarão receptivos a ‘habilidades’ geo-estratégicas e muito menos no âmbito político.
O cargo de Moedas poderá ser uma ‘moeda’ de troca para retribuir serviços prestados como controlador da execução do ‘programa de resgate’ o que tem sido permanentemente 'desvalorizado'. Facto que sendo bastante para o PSD é pouco para o País e quási nada para a Europa.
A verdade é que nem toda a Europa está sob programas de resgate, nem é certo que os ‘habilidosos’ tenham - mesmo no teatro de pobreza (política) europeu - assegurado êxito político...

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