FMI e as análises mixordeiras...

…In Portugal, the overall progressive incidence was due to progressive cuts in public wages and pensions, which offset the regressive cuts in means-tested social transfers which negatively affected households in the bottom decile.
Public sector pay cuts increased with wage to a maximum of 10 percent, and included the suspension of the 13th and 14th months of pay in 2012.
Benefit reductions included a decrease of the amount and tightening of the eligibility conditions for family benefits.
The suspension of the 13th and 14th months of pay was reversed in 2013 (after the period under consideration in the analysis). 
FMI (in Fiscal Policy and Income Inequalitylink

Neste relatório do FMI os cortes regressivos nas transferências sociais estão conotados com cortes progressivos no sector público (funcionários no activo e aposentados) que atingem no período em estudo – 2008 a 2012 - o máximo de 10% (para os mais ‘ricos’) que em termos médios contabilizam o valor de 6.3%, sendo de cerca de 5% nos escalões sociais mais baixos (os 'pobres').
Trata-se de uma análise ‘asséptica’ que se encaixa num permanente esforço de branqueamento dos programas de austeridade gizados por instituições político-financeiras internacionais (nomeadamente pelo FMI). Estes relatórios pretendem descartar das instituições  financeiras internacionais as graves consequências económicas e sociais resultantes dos programas que mecanicamente impõem as Países com dificuldades económicas e/ou financeiras. Um exemplo paradigmático:  a taxa de desemprego no período em análise quase duplicou (passou de 8,5 a 16%), facto que é toscamente contornado desta ‘análise fiscal’.

Bem, para um leigo em análise sociológica este relatório têm necessariamente outras leituras.
 
No período em estudo e relativo a Portugal o índice GINI (um ‘medidor’ do(s) coeficiente(s) de desigualdade) que estava em queda desde 2005 inverteu esta tendência em 2010 e 2011 link  (não estão disponíveis dados posteriores).
Significa isto que todos os esforços feitos no dealbar deste século para combater desigualdades sociais, sucumbiram às medidas de austeridade feitas em nome de desequilíbrios orçamentais e em prol modelos económicos ditos ‘sustentáveis’. Esta (a luta contra as desigualdades) será a primeira vítima da austeridade.

O relatório do FMI mostra, por outro lado, como os técnicos desta instituição tratam as questões humanas: O relatório anuncia que os cortes foram progressivos e que os 'mais pobres' tiveram uma redução do rendimento disponível à volta dos 5% link .
Ora, falar tão abstracta e levianamente (retórica tecnocrática) sobre um esquemático escalonamento económico-social só tem uma interpretação: a iniquidade dos cortes. Na realidade, foram buscar (saquear) 5% aonde, em termos práticos, existia muitíssimo pouco - para não dizer nada!...
De facto, só por ironia se pode defender esta política fiscal como justa e equitativa. 
Mas o escalonamento dos cortes tem um outro significado: a compulsiva proletarizarão da classe média está aí estampada como sendo uma (resgatadora) fatalidade. Como se as democracias ocidentais pudessem ‘dispensar’ esta ‘almofada social’ e o espaço de liberdade que – com todos os contraditórios - gravita em torno dela (a dita ‘classe média’).

É difícil entender um documento sobre políticas fiscais com tantos atropelos sociais. Excepto se for feito nessa prestimosa instituição internacional que é conhecida pelas recorrentes expulsões de vários Países espalhados pelo Mundo (Islândia, Hungria, Equador,…).

Comentários

e-pá! disse…
Adenda:

1.) Hoje, numa sessão partidária nas Caldas da Rainha “o primeiro-ministro fez questão de sublinhar que, entre os países europeus sujeitos a ajuda externa, Portugal foi aquele em que os detentores de maiores rendimentos mais contribuíram para o esforço colectivo relativamente àqueles que têm menos posses. E isto numa relação em que os primeiros contribuíram duas vezes mais do que os segundos… link.
Só nos faltava esta. Vangloriar-se de ter diminuído os rendimentos em 5% aos que nada têm.
2.) Nesta mesma sessão falou por alto nas recentes prescrições que indignaram o País. Todavia, determinado e forte perante os fracos, subserviente e cauteloso perante os fortes, não teve coragem para explicitamente nomear o banqueiro Jardim Gonçalves (o mais recente caso de 'injustiça').
Refugiou-se em generalidades do tipo “corrigir estas injustiças, estas assimetrias, estes acidentes, ou, eventualmente, os privilégios que ainda possam existir na sociedade portuguesa”.
Um discurso ‘acidental’… e 'mixordeiro'.

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