A.J.SEGURO / P.COLEHO ou como diálogos circunstanciais não podem ‘fintar’ soluções democráticas…

O diálogo que o Governo tem andado a solicitar às oposições (leia-se PS) viveu ontem mais um episódio desta, ao que parece, infindável novela político-partidária.

A.J. Seguro aceitou deslocar-se a S. Bento e saiu de lá ao que parece igual (ou pior) do que quando entrou link .
De facto, face aos enredos recentes, nomeadamente os levantados pelo manifesto do 74 e o prefácio dos Roteiros, os portugueses não acalentavam particulares esperanças neste tão mediatizado encontro.
Existe a percepção comum de estarmos perante um ritual democrático, de certo modo vazio e notoriamente inconsequente.

Na verdade, Passos Coelho ‘precisava’ deste encontro por duas razões essenciais.

Primeiro, para não divergir publicamente da estratégia ‘pós-troika’ que o Presidente da República assumiu querer conduzir e controlar e que passa por insustentáveis ‘convergências’. A posição de Belém não pode andar por aí a navegar sozinha polarizando na generalidade as definições para o período que se segue e o primeiro-ministro tinha – por motivos tácticos - de fingir embarcar nesta ilusão de consenso. Nenhum político, em Portugal, acredita num ‘período pós-troika’ que seja necessário definir com liberdade democrática e soberanamente, mas tão-somente no ‘prolongamento do reinado da troika’ que daqui para a frente se deseja (a troika e o Governo) mais discreto.

Em segundo lugar, por uma questão de timing governamental já que a deslocação programada, para hoje, do primeiro-ministro a Berlim, onde segundo tudo indica se irá definir concretamente a saída do PAEF e o subsequente ‘período pós troika’ à revelia de qualquer discussão pública, impunha (a Passos Coelho) a realização deste inútil arremedo prévio.
Embora não seja um aspecto fulcral Seguro deveria ter percebido que o timing governamental não é obrigatoriamente coincidente com o do PS.

No concreto, passou-se para o País a imagem que estão na forja importantes decisões capazes de influenciar o destino de, pelo menos, uma geração.
Os portugueses assistem ansiosos e atónitos a estas manobras de diversão, desconhecendo em absoluto quais os contornos estratégicos e orçamentais em discussão. Não está em discussão coisa de pouca monta. Estamos numa das encruzilhadas do futuro, de que inevitavelmente restará memória histórica.

Perpassa a ideia que poderá ser necessário construir ‘entendimentos’ entre as forças políticas e os parceiros sociais para enfrentar dificuldades crescentes em conciliar o crescimento com o garrote imposto pelo Pacto Orçamental.
Os portugueses não vivem no reino das ilusões e sabem que tal só será possível – se continuarmos a privilegiar soluções democráticas - após eleições legislativas que sejam precedidas de um debate aberto, vivo, real e transparente.

Os ‘encontros de S. Bento’ não substituem, nem poderiam, este necessário ‘consenso colectivo’. A beira de terminar (formalmente e não de facto) o período de intervenção externa nada de sério e democrático pode ser concebido sem eleições gerais. A situação a que chegamos não tem nada a ver com a que existia em 2011. E as saídas não foram, nem podiam ser, discutidas (e escrutinadas) há 3 anos. E, mais, esta lacuna do processo democrático em curso não pode ser substituída por 'conversas em S. Bento'.

Todas as manobras, as dilações e diálogos de circunstância em curso não passam de um arrastado ‘encanar da perna à rã’.
O tempo que estamos a perder à conta de hesitações várias (da PR, da AR e do Governo) no doloroso e confrangedor prolongamento de soluções democraticamente esgotadas e caducas vai-nos sair caro e vamos pagá-lo com juros altíssimos. O que não é coisa inédita para os portugueses e portuguesas.

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