Momento zen de segunda_13_01-2014

João César das Neves (JCN) não pode emprestar às homilias semanais, as culminâncias estilistas e o enlevo formal a que o maior paladino da língua portuguesa elevava os seus sermões – o padre António Vieira –, mas, como ele, também as batiza com o título com que julga passar à posteridade e, sobretudo, ganhar a bem-aventurança eterna.

A homilia de hoje (DN) chama-se “A dignidade permanece». O conteúdo recorrente é o aborto, a obsessão semelhante ao pânico de quem teme, sobre si, a retroatividade da lei.

JCN diz que o aborto nunca desaparecerá, embora pareça desconhecer a espontaneidade e o drama que atinge quem desesperadamente procura um filho, sendo, nesse caso, mera vontade do Deus do pregador.

Para o missionário, estamos «numa época promíscua e lasciva» em que a violação dos direitos humanos explode contraditoriamente na legislação familiar. Dá como exemplo dessa contradição, os EUA, «a sociedade mais aberta e dinâmica, [onde] o impasse dos embates entre "pró-vida" e "pró-escolha" se manifestam há muito».

Para JCN, onde se adivinha a coexistência entre felicidade do tartufo e o sofrimento do devoto, «a rejeição do relatório extremista de Edite Estrela pelo Parlamento Europeu a 11 de Dezembro e as discussões à volta da proposta de nova lei espanhola, apresentada a 20 de Dezembro, quebram o mito de solução pacífica deste lado do Atlântico», o que faz adivinhar a sanha com que JCN acalenta a regressão das leis da família. Quando o exaltado Irmão Católico diz que foi rejeitado o relatório “extremista” de Edite Estrela, pelo PE, diz parte da verdade. A decisão ficou ao critério de cada Estado membro com prejuízo para a saúde das mulheres pobres dos países vítimas do poder clerical.

«O respeitado semanário Expresso, num dos textos recentes que mais manchou a sua reputação de isenção e dignidade, tratou a questão desta forma: "Regresso ao passado. Rajoy cede à ala clerical e ultradireitista do PP com a revisão da lei do aborto que constitui um retrocesso de 30 anos na regulação de um direito adquirido pelas mulheres espanholas e gera um coro de críticas internacionais" (28/12/2013, p. 27).» – diz JCN.

Em apoteose mística escreve: «Como a identidade dos escravos e proletários, como a fé dos mártires e perseguidos, como os direitos dos pobres e espoliados, (…) a vida dos fetos abortados permanece no subconsciente das sociedades que os julgam extintos» e adita, clamoroso e profético, que os nossos descendentes terão dificuldade em entender.

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