Lançar foguetes (antes do tempo). Quem vai apanhar as canas? …


O Governo pretende transmitir aos portugueses a ideia que, após esta rocambolesca remodelação apadrinhada pelo Presidente da República, vai mudar de políticas. Chama a esta mudança um ‘novo ciclo’. O ciclo do investimento, do crescimento económico e do combate ao desemprego. Trata-se de mais um malabarismo político, muito a propósito, para enfrentar as próximas eleições autárquicas.

O Governo, na verdade, não tem espaço de manobra nem deu qualquer indício que pretende alterar o trajecto político que encetou há 2 anos. É um executivo marcado por atitudes adictas em relação à austeridade, ao empobrecimento. Ora sabemos que estes comportamentos não conduzem a nenhum ‘outro’ ciclo. Não tem coragem para penitenciar-se e reconhecer que lançou o País num abismo já que nada de bom – e muito menos o crescimento económico - nasce de uma recessão calculista e prolongada. Este o erro capital do ‘ajustamento’ que abraçou cedo e mostrou inúmeras e dramáticas 'inconformidades', incontestavelmente relacionadas com a ferocidade das políticas de austeridade praticadas que induziram a espiral recessiva onde estamos mergulhados. Confrontado com a dramática realidade, o Governo, insistiu ( redobrou) na receita.

As alterações no elenco governativo, uma consequência da marcha para o abismo, têm sido em larga escala sobrevalorizadas. O enfoque na pasta da Economia é antes de mais uma aposta no escuro, para não dizer mais um logro.
O actual ministro – como aliás o anterior – não tem qualquer experiência governativa. Vem de um sector empresarial muito particular onde a concorrência é sui generis e muito limitada. A prática num sector quase monopolista não se aplica à grande diversidade empresarial do País, onde a própria doutrina liberal (não se espera outra atitude de Pires de Lima) se entronca na igualdade e multiplicidade de oportunidades que, como deve ser reconhecido, não existe no circunscrito 'império' onde de movimente a indústria cervejeira e de refrigerantes.

Na verdade, experiência de gestão empresarial não desemboca necessariamente numa boa acção política. Sem querer entrar em pormenores técnicos – não me divorcio da minha qualidade de leigo na matéria – julgo que a grande barreira a enfrentar é o ambiente que formata as políticas públicas (mesmo que subsidiárias de propósitos ‘não-intervencionistas’). O aparelho de Estado habita num ancestral clima contaminado por uma morosa e pesada burocracia devoradora de intenções e indutora de frustrações difícil de ladear e que a dita ‘experiência empresarial’ não contempla.

É, portanto, demasiado prematuro para tecer loas.

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