A troika e o mexilhão…

Um recente artigo no El País faz a análise das já indisfarçáveis ‘desavenças’ no seio da troika. link.

O 'desacordo' terá crescido ao redor de uma questão aparentemente técnica, i. e., da reestruturação da dívida grega, mas ‘incomodidades’ do mesmo tipo, estilo e, inevitavelmente, de índole política, contaminaram - essencialmente em termos de segurança e confiança - outros países europeus sob assistência financeira (Portugal, Irlanda e mais recentemente Chipre).
Portanto, o ‘pomo da discórdia’ é o modelo de resgate considerado altamente recessivo, na avaliação de muitos analistas (políticos e económicos) europeus, acrescido, no entender do FMI, do protelar da reestruturação das dívidas dos países em dificuldades, situação que seria um problema transversal, logo, a encarar ‘à cabeça’ de todos os resgates.

Existe uma convicção cada vez mais forte nos meios político-financeiros comunitários que o resgate grego ‘não funciona’ (a Grécia vai no 4º. ano consecutivo de recessão e mostra reais dificuldades em cumprir uma impiedosa sequência de ‘ajustamentos’), mas mostra também que os planos de auxílio à Irlanda e a Portugal correm riscos idênticos, embora a outro ritmo, porque feridos do mesmo ‘pecado original’ e, por fim, que a intervenção da troika em Chipre é um ‘compêndio que compila todos os erros possíveis na gestão de uma crise’.

Resumindo: a UE tenta, desesperadamente, iludir as recorrentes dificuldades - o inefável comissário Olli Rehn não se cansa de, perante o eminente descalabro, repisar que ‘os programas vão no caminho certo’ – e a sua relação de 'conveniência' com o FMI (o tal parceiro experiente em resgates) está prisioneira dos iniludíveis maus resultados, inquinada pela repetição de erros e - cada dia que passa - mostra-se incapaz de corrigir a rota (encontrar o tal 'bom caminho')

No meio destes graves problemas - que só são passíveis de (re)solução num quadro político - estão os Países sob intervenção. Arriscamos a ter negociado um programa de resgate duro e feio para no meio do caminho desaparecem, envolvidos em quezílias, os ‘resgatadores’.
Na verdade, a História releva-nos que os triunviratos foram sempre soluções de curta duração e instáveis. São 'arranjos' precários e provisórios que revertem, invariavelmente, para soluções de concentração de poder, pessoal ou de grupo (muito) restricto. Começam na Roma imperial com Júlio César (Pompeu e Crasso) e prosseguiram com Octávio (Marco António e Lépido). No século passado, existiram na União Soviética, já sob a designação de ‘troika’, por exemplo, na sequência do afastamento de Khrushchov (substituído pela 'troika': Brejnev, Podgorny e Kossygin). Todos conhecemos o desfecho final destes triunviratos ou da citada 'troika'.

Com a Europa sem projecto político comum, o final ‘anunciado’ para os Países do Sul da Europa está à vista: acabarem abandonados à sua sorte com a troika dispersa e ‘imobilizada’ a meio da ponte, como espectadora e…’sacudindo a água do capote’.

O epílogo destes ‘desencontros’ é sobejamente conhecido e faz parte da sabedoria popular: “Quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão”…

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