Sobre o Mediterrâneo…

A candidatura portuguesa da Dieta Mediterrânica a Património Cultural e Imaterial da Humanidade da UNESCO é apresentada na quarta-feira, às 12:00, na Assembleia da República ... link.

Este 'interesse' sobre o Mediterrâneo – oportuno sem dúvida – é o revisitar dos nossos pilares civilizacionais onde a dieta (do grego: maneira de viver) é uma pequena porção da vivência mediterrânica onde se cruzam as circunstâncias geográficas (encruzilhada entre Norte de África, sul da Europa e Próximo Oriente) as mitologias (invenção grega que começa com Zeus raptor de Europa), a História (a marcha do Homem nos diferentes tempos), as Filosofias (discursos acerca do Ser) e as Ciências (busca do Saber).

Enfim, o Mediterrâneo é na sua essência – para um viajante do mundo contemporâneo - um espaço de pluralidade e de diversidade. Resumindo: o Mediterrâneo é um vasto e riquíssimo albergue de civilizações que se por lá nasceram, cresceram e sucumbiram, por vezes catastroficamente, mas que deixaram marcas indeléveis que perduram nos dias de hoje e ainda nos influenciam. Foi uma catadupa de civilizações que surgiram à volta de um Mar interior (Mare Nostrum!) dando origem a diversas 'talassocracias'. Como escreveu Braudel (um dos mais conceituados estudiosos do Mediterrâneo): “Não se trata de uma civilização mas de civilizações empilhadas umas sobre as outras”…

Tudo começa em termos de relevância histórica e de futuro na cultura helenística (ou talvez na cultura faraónica do Egipto Antigo), passa por Roma imperial, pela 'onda islâmica' (que ‘varreu’ toda a bordadura norte africana entrou na península ibérica para ser travada em Poitiers), pela dramática ‘Reconquista’ a que se segue o Renascimento, o Iluminismo e a Modernidade. De facto, foi a Modernidade que irremediavelmente ‘matou’ a hegemonia mediterrânica já que – com a revolução industrial – ‘deslocalizou’ a centralidade do Mundo (económico e cultural) para o Norte da Europa e para o Atlântico (América).

Quando em Portugal, nos tempos que correm, se decide valorizar – e ‘sacralizar’ - a dieta mediterrânica que, como sabemos, assenta na clássica trilogia (pão, vinho e azeite) estamos a dar passos importantes para um futuro e profícuo diálogo no seio de uma vasta e múltipla área histórica, geográfica, cultural e política que foi preponderante no Mundo e que hoje passa pelas terríveis dificuldades centradas em modelos de desenvolvimento naquilo que se denomina Europa do Sul, mas também pelas incertezas que pairam sobre as ditas ‘primaveras’ do Norte de África, bem como o trágico e insolvente problema do Próximo e Médio Oriente.

Na verdade, a proposição da dieta mediterrânica como património cultural e imaterial da Humanidade é uma saudável exaltação de conteúdos civilizacionais e identitários (genuinamente ‘mediterrânicos’) que se apresentam como um importante remanescente na cultura portuguesa de hoje. Foi isto que afirmamos em Março de 2002, no I Congresso Português de Cultura Mediterrânica, realizado pela Confraria do Pão (Alentejo), em Terena e que - apesar dos recentes desenvolvimentos - continua válido. É a feliz circunstância de ser um património imaterial. Caso fosse material certamente que 'jazia'  num qualquer off shore.

Comentários

Ensinemos os "bárbaros" a comer!
Se fosse material, já tinha sido confiscado pelo Gaspar.

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