Ultra-liberalismos educacionais


Só por desconhecimento ou com vendas ideológicas é que se pode acreditar nos amanhãs que cantam ultra-liberais do sistema holandês de educação.

É que, ao contrário do que o autor do artigo pretende ilustrar, as escolas holandesas não aceitam todos os alunos: apenas aqueles que sejam úteis para atingir os seus fins lucrativos. Ora sejamos claros: o Estado holandês não paga as propinas por inteiro e as melhores escolas só estão ao alcance dos pais com rendimentos mais elevados. Por outro lado, essas escolas só estão interessadas nos melhores alunos, reservando-se o direito de admissão: maus resultados quanto aos objectivos a que o financiamento está associado implicam menor financiamento. Os alunos menos bons são atirados para escolas piores e com menor financiamento, geralmente com objectivos de ensino profissionalizante (VMBO), sendo a esmagadora maioria dos seus alunos oriundos de famílias de menores rendimentos e emigrantes. 

Ou seja: um ensino de primeira para os bons alunos de famílias abastadas e um ensino de reciclagem para os outros, um verdadeiro apartheid (em neerlandês esta palavra significa separação) educacional e social. Se calhar é mesmo isto que os pseudo-ultraliberais arautos da iniciativa privada paga pelos contribuintes querem...

Comentários

É isso mesmo.
Este rapazinho Raposo, que escreve uns artigos no Expresso, tem a mania que é engraçadinho mas é sumamente irritante.
Burro não é, embora pareça. Tem uma licenciatura, fez um mestrado, e penso que é docente universitário. Como está sempre a referir as suas origens humildes e o avô comunista do Alentejo, presumo que terá conseguido tudo isso à custa da escola pública. Mas agora que se emburguesou passa
a vida a debitar dislates contra tudo o que é público e contra a Constituição.
Se o sistema de ensino em Portugal fosse como ele agora quer, se calhar não tinha passado do ensino básico.
e-pá! disse…
Um post com toda a oportunidade no actual quadro de 'refundação' do Estado...

Toda a argumentação ultra-liberal resume-se a um confrangedor economicismo. Para além dessa ‘visão’ nada é significativo, nada existe.
E para levar a água ao seu moinho, a onda neoliberal no poder, sustenta - com base num estudo enviesado divulgado pelo Tribunal de Contas - de que o ensino público é mais oneroso do que o privado. Este é - a par dos espúrios 'rankings' - o seu actual cavalo de batalha. Ou o seu 'cavalo de Tróia' para o ensino público.
De nada valeu a ‘desmontagem’ deste estudo do TC feita pelos sindicatos de professores (Fenprof) em que os 'vícios da amostragem' são postos a nu. link . Não teve qualquer rebate na comunicação social.
Nos tempos que correm estudos ‘encomendados’ servem de suporte para validar opções ideológicas. Os números podem ser ‘torturados’ até a exaustão como é visível no recente estudo do FMI – ‘Rethinking The State’.
Continua a ser muito difícil, em Portugal, ter um debate sério sobre problemas que, efectivamente, existem. Enquanto não conseguirmos introduzir seriedade e dignidade na discussão, nada feito na Saúde, no Ensino e na Segurança Social, para citar os três pilares do Estado Social. Para repensar qualquer coisa com a necessária transparência é absolutamente sanear os números que se esgrimem à toa na praça pública. Basta de transposições mecânicas das médias europeias, ou dos países da OCDE, para tentar impor cá dentro as tão propagandeadas ‘reformas estruturais’.
É tempo de banir da discussão das coisas públicas a velha máxima: “os números metodicamente ‘torturados’ acabarão por dizer o previamente pretendido”.
No dia em que deixarmos de cingir-nos à ‘guerra dos números’ e iniciarmos um racional e transparente debate das funções, haverá uma mudança (qualitativa).
Limito-me a registar a qualidade dos textos do Rui Cascão e a reiterar o desejo de uma mais frequente colaboração.

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