FMI: mais um despautério…

À medida que se conhecem as propostas dos homens do FMI que por aqui passam começam as dúvidas sobre a capacidade desta instituição internacional gerar ‘soluções’ para Países em crise. E o mais grave é que o FMI sendo olhado como ‘credor’ ou, melhor, um lídimo representante dos ditos (não consta que andem a comprar dívida pública nos mercados), tem um insaciável impulso para impor ‘receitas padronizadas’, à revelia das condições específicas de cada País.

A sensação residual é que no seio do FMI existem programas pré-formatados que são para aplicar em qualquer circunstância ou, como costuma perorar um político  nacional, ‘custe o que custar’.

A grande interrogação é saber qual a política de recrutamento dos recursos humanos link que integram essa instituição, à partida extremamente condicionada a parâmetros técnicos, com larga predominância de especialistas em macroeconomia e que, são ‘lançados’ pelo Mundo para ‘determinarem’ políticas financeiras, económicas e sociais. Independentemente dos resultados obtidos (que não têm sido brilhantes) os 'homens de negro' são vendidos nos aerópagos internacionais como possuidores de altíssimas qualificações.
Sabemos, por exemplo, que a presidência deste organismo é regulada por um ‘gentleman agreement’, entre o FMI e o Banco Mundial, um acordo tipo ‘Tratado das Tordesilhas’ que parecendo dizer respeito à origem geográfica dos seus ocupantes é ainda um reflexo directo da divisão do Mundo no pós-guerra. Deste modo a presidência do BM é tradicionalmente reservada para um americano (dos States) e a do FMI para um europeu (de uma potência também ‘tradicional’). Este acordo é, neste momento, vivamente contestado pelos Países emergentes (G 20) e terá os dias contados já que os centros de decisão financeira deslocaram-se para o Oriente e América do Sul. Na verdade, olhando para o histórico desta instituição produto equilíbrios do pós-guerra, verificamos que a sua acção se tem pautado, em muitas situações, por uma política de empréstimos subsidiária de drásticas contenções dos gastos públicos que é sistematicamente inserida numa vaga e difusa concepção de ‘estabilidade do sistema monetário internacional’.

Toda esta introdução para tentar compreender como foi possível uma organização deste tipo ter proposto ao Governo português uma panóplia de cortes sociais e fiscais do tipo da taxação pelo IRS da ‘baixa de maternidadelink, num País a braços com um gravíssimo problema da taxa de natalidade que inclusivamente tem sido incentivado a proceder a ‘ajustes’ relativos à sustentabilidade a longo prazo da Segurança Social.
Em que contexto se insere esta frenética medida de irresponsável ‘predação fiscal’?

Que interessa ter bons técnicos em cenários macroeconómicos desenhados em folhas de Excel quando no desempenho de funções concretas no terreno mostram amiúde possuir uma gritante insensibilidade social?

Na verdade, há qualquer coisa de opaco no FMI, para além dos declarados objectivos de promover múltiplas estabilidades no contexto internacional: cooperação financeira, comércio mundial, mecanismos cambiais, balanças de pagamentos e, importante, o investimento para o desenvolvimento.
De fora, portanto, está o invisível mas o mais decisivo: uma oculta agenda política.

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