REGRESSO À IDADE MÉDIA ?



A troika e os seus discípulos que queriam ir além da troika prometeram-nos uma austeridade de curta duração, após a qual viriam tempos de uma nova e duradoura prosperidade. Afinal, desde que Passos, Gaspar & C.ª, orquestrados pela Sr.ª Merkel, tomaram o poder, a austeridade não gerou senão... mais austeridade. E, a ajuizar pela proposta de orçamento que apresentaram, assim vai continuar a ser, num círculo vicioso sem fim à vista.

Há dias a mestra Merkel veio dizer que são precisos mais cinco anos de austeridade. Já agora, porque não uma austeridade de mil anos, como a que os seus antepassados, os bárbaros germânicos, nos impuseram na Idade Média? Parece ser isso que a Alemanha quer (digo “a Alemanha” porque parece que a grande maioria dos alemães apoia a Sr.ª Merkel), para de uma vez por todas “pôr na ordem” gregos e latinos, com cuja civilização os germânicos, ao longo de toda a História, nunca se deram bem.

Só que agora, em vez de uma Idade Média católica, teríamos uma Idade Média luterana, que seria mil vezes pior.

A religião católica sempre tem, como derivativos da chateza das missas e das novenas, as suas romarias, as suas procissões, os seus santinhos e as suas santinhas.

A religião luterana não tem nada disso. Nem santinhos nem romarias. É a chatice feita doutrina. E os chatos não são só os padres, mas também os leigos. Como disse Marx (cito de memória), “o protestantismo, fazendo dos padres leigos, fez dos leigos padres”.

Além disso, enquanto o catolicismo, pelo menos em teoria, prega o desapego pelos bens materiais e diz que dos pobres será o reino dos céus, o protestantismo elogia a agiotagem e endeusa os ricos, considerando que a sua riqueza significa que estão na graça do Senhor.

Isto traduzido em termos políticos representa a legitimação da plutocracia e da doutrina de que os ricos são ricos porque são bons e trabalhadores e os pobres são pobres por serem maus e calaceiros (doutrina essa que já vem fazendo curso entre a direita portuguesa, de há uns tempos para cá, sobretudo desde que os pobres deixaram de ser “pobrezinhos” e passaram a ter direitos).

É esta Idade Média que nos espera, se não nos apressarmos a correr com a corja que se apoderou do País. E se os povos europeus não se libertarem dos bárbaros que agora dominam a União Europeia.

Comentários

e-pá! disse…
AHP:
Boa e didática caminhada pelo (no)processo histórico.

Atrevo-me a acrescentar:
A Reforma (protestante) criou um exército de ascéticos e puritanos que não consumiam as mais valias. Essas poupanças eram re-investidas em actividades produtivas, programadas e, em muitos casos, trouxeram crescimento, fortuna e azares. Os azares foram as guerras que determinaram, a fortuna foi o instrumento e o meio para o crescimento.
Hoje, este 'novelo ético' (no conceito de Max Weber) acabou por dedicar-se a dominar a Europa.
Richard Baxter, puritano inglês do XVII, escreveu: "Trabalhai então para serdes ricos para Deus, não para a carne e o pecado."
Palavras que - após séculos -facilmente podem imaginar na boca de Merkel para proferir em Atenas ou, mais recentemente, no encontro com empresários no CCB, a quando da sua visita a Lisboa...
Estes são os fundamentos da teoria do despesismo e da 'bandalhice', aplicados aos povos do Sul.
Estamos a ser 'surprendidos' por estes 'rigores' quando devíamos ter a percepção histórica que idêntico 'trabalho' já tinha sido feito (séculos XVIII e XIX) em relação aos Países da bordadura mediterrânica quando da 'Revolução Industrial'. Hoje, o ascetismo protestante (maioritariamente luterano) exporta - para toda a Europa - a "Revolução neoliberal"...

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