O Papa, o negócio da fé e os expedientes pios


Que um homem, celibatário por convicção, e papa, graças ao centralismo democrático dos consistórios, se dedique à criação de cardeais e santos, ao fabrico da água benta e à promulgação de indulgências, compreende-se por dever do múnus e necessidade de arrecadar receitas.

Já a atribuição de milagres a defuntos de comportamento duvidoso, em vida, e desfeitos pelos anos de defunção, parece um embuste para supersticiosos que levaria mulheres de virtude a tribunal e ciganos à prisão. Tal como os exorcismos para tirarem demónios do corpo dos que são crentes. Não há um único caso de um ateu atacado por demónios.

Sempre admirei o olfato papal para descobrir, entre milhões de defuntos, o taumaturgo que curou uma queimadura, desentrevou uma freira ou erradicou um cancro. Sabe-se que a fé é uma graça mas não é de graça. Custa dinheiro. E não é com missas, novenas e benzeduras de medalhinhas que se oleia a máquina do Vaticano. Os Anos Santos que já tiveram um ritmo predefinido são agora quando um papa quiser, mas os proventos das indulgências plenas minguam ao ritmo das dádivas para as alminhas do Purgatório.

A abolição do Limbo foi neutra em prestações monetárias mas a extinção do Purgatório foi demolidora para os rendimentos da ICAR. A progressiva secularização de países que o papa tinha como protetorados arrasou as contribuições financeiras.

Só o medo do Inferno, sobretudo na fase de decadência dos crentes, leva ainda, através dos lares, a deixar heranças à Igreja, com a conivência dos Estados que a exoneram de impostos e descuram a investigação sobre o modo como se transferem fortunas para as instituições pias.

O medo de perderem votos leva os partidos dos países democráticos a condescenderem com a espoliação dos velhos e a transferência de bens para uma instituição que vende na Terra a assoalhada que a superstição religiosa almeja no Paraíso.

Os Estados devem impor a laicidade e fiscalizar a transferência de bens de doentes senis e/ou terminais.

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