Um Governo cujo projeto é a vingança e o ressentimento



Não sei o que será «a refundação do memorando de entendimento» a que Passos Coelho se referiu no encerramento das jornadas parlamentares conjuntas do PSD e do CDS-PP, na Assembleia da República, neste sábado.

Dado o passado deste Governo não pode ser coisa boa e a defesa do compromisso do PS cria ainda maior desconfiança em quem não conseguiu um comprometimento firme com o seu parceiro de coligação e, muito menos, com o eleitorado, incluindo o seu.

Suspeita-se de quem repudiou o PEC 4, numa sofreguidão do poder, com o argumento de que não podiam ser exigidos mais sacrifícios aos portugueses e que, agora, em plena desintegração ética e política, apela ao adversário para que se junte ao carrasco.

Com um PR que perdeu a confiança dos portugueses, silencioso perante quem escarnece a Constituição e mostra a mais completa insensibilidade social, o apelo ao PS não é para ser levado a sério, é uma mera manobra de distração para prosseguir o PREC (Processo Reacionário Em Curso) durante o maior tempo possível. A menos que o PS queira fazer haraquíri.

Este Governo faz mal à saúde, à economia e às finanças dos portugueses. É preciso usar os meios legais para o impedir de prosseguir. Incompetente, desnorteado e sem moral, o Governo de Passos Coelho permitiu que Paulo Portas finja de estadista. Os portugueses não podem deixar à solta o bando que trauliteiros que arruínam o País e comprometem a democracia.

Quem foi eleito para governar de acordo com um programa que rasgou e promessas que não cumpre, merece que todos os meios legais sejam postos ao serviço da sua demissão.

Sabemos que são penosos os custos da interrupção de uma legislatura mas tornar-se-ão mais dolorosos os custos da sua manutenção em funções. Não podemos permitir que o espírito de vingança e o ressentimento contra Abril crie condições para um regresso a novas formas de opressão.

Um destes dias, o beato César das Neves, antigo assessor de Cavaco Silva, já escrevia no DN que em Portugal as reformas não eram possíveis em democracia. Esta gente já confunde reformas com contrarrevolução e as únicas reformas que conhece são as que pretende confiscar aos pensionistas.

Basta!

Comentários

Como muito bem se diz neste post e e-pá também já disse no seu post "Estado Social-OE 2013", o que está em jogo neste momento não são questões técnicas - quais as melhores medidas para resolver a crise - mas uma questão política. A "guerra" é entre os que defendem o Estado social resultante do 25 de Abril e consagrado na Constituição e os que, entrincheirados no Governo, pretendem desmantelá-lo. A direita ainda não engoliu a revolução de Abril que lhe retirou o monopólio do poder e aproveita a crise para tentar "desforrar-se". Por isso vêm Passos Coelho, Gaspar e os banqueiros que ambos servem, bem como os seus intelectuais de serviço,pregar que é preciso rever a Constituição. É isso que eles querem, há décadas. Mas felizmente o povo já acordou. Perdeu a "paciência".

A contra-revolução não passará!
Quando Passos Coelho ligou a misteriosa "refundação" do programa de ajustamento às reformas do Estado, nós já sabíamos muito bem o que ele quer dizer e fazer. No léxico do discurso político da direita, "reforma do Estado" ou "reformas estruturais" não são mais do que dois eufemismos, que significam unicamente pretender desenvolver e aplicar uma política de desmantelamento (ou o seu esvaziamento funcional) do Estado Social, construído com a revolução de Abril. Sobre as ruínas provocadas pela violenta austeridade, Passos Coelho quer, agora, ser o coveiro do Serviço Nacional de Saúde, da educação pública e da Previdência Social. Do apetitoso bolo, os privados abocanhariam os setores mais rentáveis daquelas três pilares e o resto seria remetido para o mais que duvidoso setor assistencial. Com base no argumento falacioso, "menos Estado, melhor Estado" ou o seu congénere, "o Estado só deve fazer o que tem de fazer e o que sabe fazer bem", esconde-se a grande armadilha para aplicar a mais pura e dura doutrina neoliberal.
Se estes intentos fossem conseguidos, Portugal seria vítima de um retrocesso civilizacional, que o amarraria durante muitos anos à pobreza e à ignorância. Abater-se-ia sobre a população uma tragédia muito maior do que aquela já provocada, até agora, pela aplicação das políticas de austeridade.
Para a esquerda, chegou o momento de tocar a rebate e de cerrar fileiras. Chegou o momento histórico de defender o que ainda resta da revolução de Abril. Toda a esquerda é precisa e ninguém pode ser marginalizado ou auto-marginalizar-se.
Manuel Galvão disse…
Em 1898, quando Portugal se encontrava em dificuldades para pagar a sua dívida externa, a Alemanha e a França propuseram efectuar um novo grande empréstimo a Portugal o qual teria como garantia a cedência de territórios em Angola, Moçambique e Timor àqueles países, caso o empréstimo não fosse pago.

Portugal não aceitou. Aqueles países ainda não tinham afinado o mecanismo de colocar àfrente dos destinos dos países periféricos pessoas da sua confiança.

100 anos depois a História repete-se. Porém, hoje, as garantias são outras; Empresas do Estado,Imóveis,minérios, etc.

Não aprendemos mesmo nada com o passado...

(História de Portugal, por José Hermano Saraiva, Pub. Europa-América - Edição 116509/5939 - 1993, Pag. 478)
Manuel Galvão: E essa recusa à humilhante proposta ocorreu num período em que Portugal estava a recuperar da bancarrota declarada na crise financeira de 1891-83.

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