A 'crise alimentar' ou um mal nunca vem só…

O índice de preços internacionais de produtos alimentares da FAO (organismo da ONU) subiu 6% em Julho… link

Em todos os males que nos acontecem olhamos inquietos para as causas remotas muitas vezes difíceis de descortinar. 

Com o Mundo a viver um período de fraco crescimento económico, existindo mesmo um número considerável de Países em recessão (como é o caso de Portugal), em que se observa um crescente deslizar de cidadãos para a pobreza, o ‘alerta’ da FAO é mais um mal que se junta à crise económica e financeira.

De facto, em relação aos cereais (trigo e milho), um dos sub-índices avaliados, a subida - em igual período - foi ainda mais significativa – 17%!.
Na verdade, todos sabemos que o pão tendo sido ao longo do trajecto histórico (da Humanidade) um insaciável mitigador da fome. Perante uma prolongada situação de crise, que se estende por alguns continentes, muitas são as pessoas, as famílias e as comunidades que se defrontam com o espectro da fome. A crise alimentar que se avizinha ameaça retirar o já escasso pão das bocas de muitos famintos. Em zonas endémicas de conflitos onde grassa a violência [link] já é possível observar longas filas de cidadãos à procura de um naco de pão (um pouco à semelhança do que sucedeu em Paris nas vésperas da Revolução Francesa...).

Em Portugal, um país profunda e historicamente dependente da importação de cereais, o preço que teremos de pagar face a uma eventual nova ‘crise alimentar’ será, certamente, insuportável. Somar este ameaçador cenário às circunstâncias que já estão no terreno e para as quais não têm existido 'soluções credíveis' – desemprego elevadíssimo, alta dos preços dos combustíveis e da energia, carga fiscal incomportável, etc. – é, de facto, tornar insustentável a vida de um estrato populacional (os economicamente débeis) que engrossa diariamente.

Assistimos em 2007-08 a uma ‘crise alimentar’ que levou milhares de pessoas (essencialmente em África) a atravessar a ténue fronteira que separa a pobreza da miséria, i. e., da fome. Já aí foi possível observar a conjugação de múltiplos factores em acção, como por exemplo, a escalada dos preços dos combustíveis, questões cambiais, alterações climáticas, etc. Daí para cá, nada foi feito de substancial e de concreto nesta área de fulcral importância para todos.

Com o Mundo a viver em permanente sobressalto por questões financeiras (crise do deficit e das dívidas) as atenções tem estado viradas para o controlo dos deficites (públicos e privados) e para a sustentabilidade das instituições financeiras (bancos). Descurou-se o estímulo à produção alimentar e o controlo dos preços dos produtos agro-pecuários optando por adoptar o caminho de ‘financeirização’ dos mercados. O resultado está aí.

E, num País como o nosso, quando o Governo assume, directa e publicamente, a imperiosa ‘necessidade de empobrecimento’ como redenção e penitência para os 'nossos pecados' (males passados, presentes e futuros) está, clara e objectivamente, a agravar todos os problemas que surgem - como seria de esperar - em catadupa, como as cerejas. Aliás, este Governo só vem confirmar aquilo que o povo, há muito, diz: 'Um mal nunca vem só'

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