Mubarak e o 'novo regime'


Mubarak condenado a prisão perpétua… link

Este julgamento marca, decisivamente, o fim de um ciclo político na terra dos faraós. Se é verdade que o virar de página é um facto incontestável não menos verdadeiro é o facto de continuar envolto numa espessa névoa o futuro deste País. Em pleno processo de eleição presidencial estão em confronto dois candidatos que representam duas correntes políticas: a Irmandade Muçulmana (Mohammed Morsi) e um tipo de ‘evolução na continuidade’ representada pelo ex-primeiro-ministro de Mubarak (Ahmed Chafiq).

Hosni Mubarak, foi apeado na rua, pelas impressionantes manifestações da praça Tahrir (da ‘Libertação’) que começaram a 25 de Janeiro 2011 e que, 2 semanas depois (a 11 de Fevereiro), levaram-no a renunciar ao cargo de presidente (que exercia há mais de 30 anos), através da delegação de poderes a uma ‘junta militar’, integrando membros da alta hierarquia militar, da sua confiança (política) pessoal. Omar Suleiman líder da ‘junta militar’ era, nem mais nem menos, o vice do presidente deposto. De então até aos nossos dias levanta-se uma intensa e sinuosa contestação visando o fim da liderança militar (que o tempo tratará de descredibilizar) e, uma complexa transição para um regime civil ainda inacabada. Esta transição não foi (não tem sido) um processo linear e transparente aflorando múltiplas vezes conflitos entre concepções ‘liberais’, por princípio laicas e obscuros desígnios islamitas, subsidiáios da 'sharia'. 

As palavras de ordem das manifestações de Tahrir (liberdade de expressão, desemprego, salário mínimo, inflação, corrupção, violência policial, etc.) eram observadas, à distância, por um dos mais estruturados movimentos político-religiosos, a Irmandade Muçulmana, perseguida durante o ‘regime nasserista’ que, na realidade, Mubarak seria (apesar de todas as inflexões e da Guerra dos Seis Dias/Yom Kippur) um derradeiro representante. De facto, Nasser foi um paladino do ‘pan-arabismo’ movimento político e social que assentava essencialmente no nacionalismo (árabe), no populismo, numa enviesada concepção laica do Estado e, por necessidades históricas, muito pouco no Islão. É neste quadro que Nasser neutraliza e arreda a Irmandade Muçulmana do cenário político da Egipto circunstância que, com alguma nuances (o Islão é a região oficial do Estado na ‘antiga’ Constituição) perdurará nas épocas de Sadat e de Mubarak. Na sequência da queda de Mubarak reaviva-se, entretanto, um problema latente: a reforma constitucional. A ‘sharia islâmica’ paira sobre os temas de fundo relativos à organização político-administrativa e económica do Estado, i.e., do ‘novo regime’.
As presentes eleições presidenciais no Egipto equacionam, de maneira clara e decisiva, este problema de fundo. Entre o candidato da Irmandade Muçulmana (decorrente de um atribulado processo de escolha) e o candidato da esquerda-liberal, Hamdeen Sabahi, provavelmente o mais lídimo representante do ‘espírito de Tahrir’, que terminou a 1ª. volta eleitoral derrotado, posiciona-se Ahmed Chafiq, com íntimas ligações ao poder militar, herdeiro do regime Mubarak.

A sentença de hoje tem várias representações. É, internamente, um inequívoco sinal para os militares e para o candidato Ahmed Chafiq acerca das suas pretensões em 'modernizar' o regime de Mubarak. Mas significa, também, que o Mundo poderá em breve averbar a 'natividade'  de mais uma República Islâmica. Com todas as consequências daí inerentes...

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