ESPANHA II : impudico regabofe político à volta de um resgate….


Lá (na Espanha) como cá pretende-se ‘justificar’ duros programas de austeridade – e a consequente recessão económica e o desemprego - com ‘inevitabilidades’.
O ‘resgate espanhol’ mostrou – para quem ainda não tivesse ainda entendido - como os insistentes apelos dos Governos de Direita ao enfrentar da realidade e à verdade são meras figuras de retórica.

A maneira como o Governo – prontamente desmentido pela Comissão Europeia – apresentou o ‘plano de resgate’ ao povo espanhol é lapidar link.
Tentou ocultar aos seus concidadãos as consequências inerentes à intervenção externa na estabilização do sistema bancário desvalorizando-as premeditadamente. A nebulosa obscuridade como se tem tentado evitar o confronto com a realidade ignorando fenómenos de corrupção e nepotismo (onde gente grada do PP está envolvida) no seio do sistema bancário espanhol é preocupante.

Ninguém acredita que os problemas financeiros de Espanha se circunscrevam ao Bankia e a algumas ‘Cajas de Ahorros’. Não existe até ao momento qualquer comissão de investigação ou de acompanhamento nas Cortes espanholas que monitorize as causas do ‘desastre’ e/ou vigie a aplicação da ajuda internacional conseguida. O Governo espanhol preferiu recorrer a instituições internacionais, como o FMI, para saber o estado da sua banca e depois congratular-se na praça pública que ‘os homens de negro’ não entram em Espanha.
Já lá estão! Bastará, para constatar isso, ler El País link que reporta com destaque as declarações hoje proferidas pelo Ministro das Finanças alemão à emissora Deutschlandfunk sobre a existência de um controlo idêntico ao dos outros países intervencionados: “Haverá uma ‘troika’. Encarregada de controlar com precisão que o programa se cumpre”.
O problema não é só a existência desta ‘troika’. O grande problema será os espanhóis (e já agora os cidadãos europeus) não conhecerem o dito ‘programa’ em toda a sua dimensão. Sabemos que no actual contexto europeu não existem ajudas financeiras grátis. As "ajudas com ‘programa’" transformam-se naquilo que ontem Mariano Rajoy, de modo patético, tentou ocultar aos espanhóis, à Europa e ao Mundo: em resgates!

Ao mesmo tempo a Comissão Europeia vai levantando a ponta do véu. O ‘resgate espanhol’ não se limita a prevenir um grave ‘acidente financeiro’ nem a proporcionar os meios para a reestruturação do sector bancário. E as exigências não se ficam pelo cumprimento do Pacto de Estabilidade link. Mariano Rajoy que, no passado, exibiu alguma firmeza ao protelar a meta para atingir o equilíbrio orçamental só em 2014 (e não 2013 como exigia a Comissão Europeia), ganhando tempo, entregou de bandeja a sua capacidade negocial. Vai ter de cumprir (de impor aos espanhóis) o Pacto de Estabilidade acrescido de alguns ‘bónus’ sob a especiosa forma de recomendações: subida do IVA, aumento da idade da reforma, reforma das autonomias, diminuição dos apoios sociais ao desemprego, etc., uma 'receita' da qual a Europa não desiste (apesar dos resultados) e que por cá conhecemos bem.

A lição é maior do que o ‘resgate’. E sendo assim vimos num fim-de-semana um Governo recentemente legitimado pelo voto popular abandonar uma postura autoritária e presunçosa que entretanto assumira para se atolar em banais eufemismos e malabarismos semânticos (ajuda versus resgate). E destas mentiras não há resgate possível...

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