Espanha e o abalo do ‘dominó’ europeu…


O ‘resgate de Espanha’ ou, como deseja o Governo espanhol, a ‘ajuda ao sistema bancário' permite à UE, ou se quisermos à Zona Euro, sobreviver até à próxima cimeira europeia. Mais nada. Ninguém acredita que o ‘problema espanhol’ se circunscreve ao sistema bancário.
Os restantes e importantes problemas, como seja um ciclo económico recessivo e uma consequente elevadíssima taxa de desemprego (6 milhões de espanhóis!) foram, pura e simplesmente, adiados. Aparentemente, o ‘resgate espanhol’ cria um novo modelo de ‘ajuda’. Não foi formalmente assinado um memorando entre a UE e outras instituições financeiras internacionais (FMI, p. exº.) e, publicamente, Bruxelas parece contentar-se com um acompanhamento do sistema bancário espanhol e a ‘vigilância' do deficit orçamental. Uma grande 'esmola' que poderá esconder grandes problemas. Na verdade, a Europa política do momento (dominada pelo PPE) poderá ter motivos para confiar no Governo espanhol. Mariano Rajoy é – apesar de todas as ‘tiradas’ populistas – um indefectível adepto da austeridade e da contenção orçamental.

Na UE, e no enquadramento político desenhado pela Srª. Merckel, o agudizar da crise espanhola tornou claro e nítido o espectro do afundamento – a curto prazo - da moeda única. Mostrou que não é possível adiar por mais tempo, no âmbito europeu, a integração fiscal, a supervisão bancária e a criação de um fundo europeu garantido. Trouxe à ribalta a inevitabilidade da mutualização da dívida (eurobonds) dos países que integram a Zona Euro, sob pena de perante uma ‘cascata de resgates’ (a Itália vem a seguir?) estarmos a tentar iludir uma irresponsável rota para descalabro final. Os sucessivos adiamentos de decisões políticas só poderão onerar (ainda mais) os custos de necessários ajustamentos fiscais, orçamentais e económicos que os cidadãos europeus – em última análise - suportarão.

Ontem, a Espanha pediu ajuda à UE mas, simultaneamente, a Europa terá tomado consciência de que o que estava em jogo não era mais um mecanismo de ajuda a um País em dificuldades (supostamente transitórias e temporárias), mas a sobrevivência 'global' do Euro e da UE.
Tornou-se evidente, pelas mesmas razões, que os resgates da Grécia, da Irlanda e de Portugal foram enviesadas e momentâneas manobras tácticas que não integraram qualquer estratégia com futuro para a Europa.
Exibiu, também, a inacreditável displicência como a maior economia mundial (o espaço europeu) que, sem rei nem roque, tem lidado com a crise global, sacrificando a Europa no altar dos interesses (financeiros ou ‘dos mercados’) a troco de quê?
Os próximos dias serão decisivos. A somar ao ‘terramoto espanhol’ poderão ‘suceder-se’ desordenadas e catastróficas 'réplicas' oriundas de Atenas e, porque não, de Chipre, Itália, etc. ...

A próxima reunião do Conselho Europeu (28-29 de Junho 2012) deverá, se houver sensibilidade e visão política, sentir a necessidade - e a urgência - de alargar a agenda prevista e lançar-se em ‘altos voos’.
Não bastará discutir e aprovar medidas para o crescimento e emprego (a "EU growth agenda").
É cada vez mais imperativa a noção que, na próxima reunião de 28 e 29 deste mês, será impossível fugir à discussão sobre uma profunda e inadiável ‘refundação da UE’.

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