A cimeira luso-espanhola pariu: ‘evolução na continuidade’…


A Europa vive tempos de dificuldades, de incertezas e de inquietações. Todavia, estes factos não parecem ter influenciado, de maneira determinante, a XXV cimeira luso-espanhola. Do longo ‘rosário’ de decisões pendentes relativas ao relacionamento bilateral link, suspenso há alguns anos, ressalta o posicionamento político, ou melhor, o seu ‘não-posicionamento’.

Os Governos (de Direita) dos dois países acharam que era o momento azado para reafirmarem opções político-económicas e decidiram  ‘fixar-se’ em soluções que não estão a dar uma resposta credível a uma crise que se arrasta penosamente, imolando – todos os dias - no altar das falsas certezas muitos cidadãos.

A complexa situação grega link e os resultados das eleições presidenciais francesas link são, para os actuais dirigentes de Portugal e Espanha, factos absolutamente irrelevantes e determinaram o impensável assentar de arraiais nas 'suas' trincheiras (políticas). Um dia – mais cedo do que pensam - acordarão isolados. Para os portugueses trata-se de um peculiar tipo de digestão do dito popular: “Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes…

O discurso de ambos é monocórdico – a consolidação orçamental a qualquer preço - e as ‘nuances’ praticamente inexistentes. Continuam a afinar o diapasão pelas trajectórias ‘sem alternativas’, num claro bloqueio democrático que deveria, antes de mais, privilegiar a avaliação das soluções já em curso e, em consequência, adequar o discurso - e a prática política - com a dinâmica do processo procurando, e deste modo, acertar agulhas.

A imagem a reter é que quer Passos Coelho, quer Mariano Rajoy, estão manietados por duas questões que ensombram a sua visão e, consequentemente, a acção política: o espectro dos ‘mercados’ e a força hegemónica dos diktats da Srª Merkel.

Se é verdade que a crise da dívida impôs no sector público a consolidação orçamental, tornou-se notório de que esta não pode ser efectuada a qualquer preço. E, mais, todos temos a noção de que as medidas restritivas e recessivas com vista à redução do deficit travaram de modo dramático o crescimento económico e fizeram disparar taxas insuportáveis de desemprego. Por outro lado, as ditas ‘reformas estruturais’ que seriam o complemento das medidas de austeridade não passam de medidas avulsas direccionadas para a desvalorização do factor trabalho, sob o ilusório pretexto da competitividade.

Os portugueses, e provavelmente os espanhóis também, não terão conseguido entender como a partir de medidas centradas - quase exclusivamente - na consolidação orçamental, com resultados marcadamente recessivos na Economia, se operará o ‘milagre’ do crescimento.

E esta será a explicação necessária, e não conseguida, que – para além de circunstanciais confissões de ‘fé política’ – continua a ameaçar ambos os Países. A Grécia - com um ‘ajustamento’ deste tipo desde há cerca de 3 anos – deveria ser para os dois dirigentes ibéricos um case study. Infelizmente – para todos – a cimeira decretou: ‘evolução na continuidade’.

Os portugueses conhecem bem as consequências deste slogan…

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