Homenagem a Fernando Paulouro e ao Jornal do Fundão

A Fernando Paulouro

A guerra colonial desencadeou-se quando a ditadura estava sólida e a PIDE e a censura eram os esteios do regime. Vivi na Covilhã os anos letivos de 1961/62 e 62/63, anos em que a repressão era musculada e os jornais ostentavam o carimbo «visado pela censura».

Conheci então o Jornal do Fundão e fiz-me seu assinante. Era o semanário mais visado pelo aparelho repressivo do regime salazarista, que perseguia os próprios leitores, mas o seu fundador e diretor conseguia exorcizar os medos e fazer um jornal digno com o que sobejava da bílis dos censores e do lápis azul. Era, nas circunstâncias, uma lufada de ar fresco, um produto honrado na prosa e no pensamento, produzido por uma plêiade de jornalistas e escritores ostracizados que encontravam refúgio no JF e a solidariedade do seu diretor.

Os desafios lançados à ditadura levaram, em 1965, ao encerramento do JF durante seis meses mas o jornal que nasceu no pós-guerra pela mão de um jovem de trinta anos não mais deixaria de ser um farol da ética e da coragem.

Hoje, poucos sabem quanto devemos a António Paulouro, modelo de jornalista que não vergou, mas são muitos os que gozam a sua herança cívica e intelectual por intermédio de um sobrinho, cosmopolita e viajante do mundo dos livros, convertido no guardião de uma herança que é de todos os que amam a liberdade e o livre-pensamento.

Fernando Paulouro é o herdeiro do passado glorioso do Jornal do Fundão, capital que preserva com uma prosa exemplar na sintaxe e na ética, corajosa e culta, perscrutando os caminhos do futuro numa época de genuflexões e cedências ao poder.

Ao fazer 65 anos em 31 de Janeiro, dia em que se celebra a revolta republicana de 1891, pode orgulhar-se do desvelo com que se entregou à escrita, da tolerância com que preza o pluralismo, da limpidez que imprime à prosa na defesa da liberdade e da justiça social. E não lhe falta disponibilidade para cultivar afetos e adicionar amigos.        

É o cosmopolita que se rendeu ao Fundão onde a sua prosa, de fino recorte, defende os valores democráticos e os interesses da região. Aí permanece guardião do templo a que se acolheram os proscritos da ditadura que fizeram do Jornal do Fundão trincheira e do seu fundador uma referência cívica no mundo da cultura e da informação.

Fernando Paulouro é um viajante do mundo dos livros preso ao seu jornal, atento à inovação que a imprensa escrita obriga, exigente na qualidade com que honra o passado do JF e enfrenta os tempos difíceis que o ameaçam.

O dia de aniversário do Fernando Paulouro é o pretexto para exaltar o lugar de relevo de um jornal singular e de um diretor excelso e a oportunidade para dar um forte e caloroso abraço ao jornalista íntegro e cidadão exemplar que todas as semanas publica o JF com a vivacidade de um jovem e a sabedoria de um humanista amadurecido na luta por uma sociedade mais justa.

Obrigado, Fernando. Parabéns pelo aniversário.    

Nota: Este meu texto chegou-me ontem publicado em livro.

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