Os Governos e as promessas não cumpridas

Em Portugal, nada dá mais gozo aos adversários políticos do que chamarem mentiroso e ladrão ao líder do partido rival. A alteração da conjuntura política justifica a mudança de rumo de um programa de Governo mas é um excelente pretexto para acoimar de mentiroso o governante.

Raramente se combatem decisões políticas com críticas fundamentadas e apresentação de alternativas. O assassínio de carácter é o caminho usada para provocar a alternância partidária que caracteriza as democracias e evitar a perpetuação do mesmo partido no poder mas é a via mais curta para descredibilizar a política e os políticos.

Sócrates começou a ser atacado com insinuações sexuais, num frente-a-frente televisivo, por Santana Lopes, e, após a vitória, surgiu a célebre reunião da Aroeira como primeira tentativa da direita para ganhar pela calúnia o que tinha perdido pelo voto. E a estratégia nunca mais trocou o ataque ao carácter pela luta política. Até de Belém veio a pífia insinuação das escutas pelo primeiro-ministro quando era ele que, ao arrepio da lei, era escutado sob os mais diversos pretextos e as mais obscuras intenções. Isto são factos. Não envolvem qualquer apreciação do mérito do referido político.

Esperemos que, no futuro, prevaleça a luta política sobre os ataques pessoais, vigorosa e de confronto de princípios.

Desde a chegada de Passos Coelho ao poder, uma ironia do destino num partido que o preferiu a Marques Mendes, não pararam os aumentos de impostos que ele execrou na campanha eleitoral. Chamar-lhe mentiroso seria uma baixeza pois, na origem das promessas, esteve a sua inexperiência política.

Os aumentos de impostos eram fatais e o que se deve discutir é a sua incidência e dimensão, saber se a reintrodução do imposto sucessório ou a tributação das grandes fortunas, ou ambas, seria mais justo do que os cortes na saúde e na educação. Também devemos interrogar-nos se as regalias fiscais da Igreja católica são compatíveis com os sacrifícios por que a generalidade dos portugueses está a passar.

Ainda não se viu o fim das viaturas para uso pessoal de milhares de funcionários cujas funções e categoria o não justificam, nem a redução do número de autarquias que não têm população nem massa crítica que as explique, nem a redução do número faraónico de membros das assembleias municipais e regionais, nem o corte de assessores, nem o fim de empresas públicas inventadas para dar empregos a caciques partidários.

É sobre estas questões que o PS e o PSD devem tomar posição para serem julgados pelo seu mérito e evitar a ganância do CDS que usa, como nenhum outro partido, o aparelho de Estado para aumentar a influência e o parceiro de coligação para fingir superioridade.

O silêncio do PR durante esta governação PSD/CDS contrasta com o comportamento para com o anterior Governo e ignora os despautérios do Governo Regional da Madeira.

A primeira vez que se cumpre o sonho de Sá Carneiro, um governo, um presidente e uma maioria, está a tornar-se um pesadelo.
Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

e-pá! disse…
Na verdade, o silêncio do Presidente da República sobre a situação financeira (endividamento)da R A Madeira é, civicamente, confrangedor.
Politicamente, é um descalabro.

Por vezes os povos são acusados de ter os governantes que merecem.
Neste caso, independentemente de todos os aforismos, é caso para proclamar que não mereciamos tal sorte.
De facto, torna-se impossível iludir (toda a vida)engajamentos ideológicos e compadrios partidários.
Esperemos pelo discurso de 5 Outubro para fazermos uma análise comparativa com o do passado dia 25de Abril.

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