Jardins, insularidades e fait divers


A feira de fait divers que Alberto João Jardim tem montado à volta do endividamento excessivo da Região Autónoma da Madeira é caricata para não dizer grotesca.


Interessa saber, em primeiro lugar, se houve ou não “ocultação” de dívidas contraídas ao arrepio do quadro definido pela lei orgânica orçamental facto que segundo julgo está a ser (tardiamente) averiguado pela PGR.


Mas, o País - e os políticos - não parecem dispostos a esperar. Até, porque, o próprio Alberto João Jardim revelou publicamente valores que, à primeira vista, parecem pornográficos (> 5 mil milhões de euros) à luz do PIB regional. Mais, a esta atónita revelação acrescentou a desfaçatez de classificar o astronómico montante como “uma coisinha de nada no meio de todas…link. O “espírito” de que quando se trata de dinheiros públicos não se fazem contas (nem se planeia) tem sido o emblema dos nossos gestores públicos (desde a Monarquia).


A culminar estes permanentes e cansativos desvarios o presidente do Governo Regional da Madeira, ontem, resolveu (voltar a) brandir a ameaça da independência. link Esta é, de facto, uma chantagem que – periodicamente - vem sendo utilizada em relação a uma questão fulcral – a coesão nacional, perante a ignóbil passividade do “Sr. Silva” (como AJJ designa o Presidente da República).
Mas apesar da leviandade como é feita, não deixa de ser uma ameaça “gasta” e descredibilizada. Tem servido para justificar sucessivos perdões de dívidas. Utilizar, neste momento, esta pseudo-argumentação é o espelho do desespero.


De facto, o inevitável serviço da dívida da Madeira (os tempos são outros) põe termo ao modelo jardinista de governo para a Madeira, que durou mais de 30 anos e se baseou no desbragada projecção de obras públicas (algumas supérfluas como têm sido inventariadas link) e na proliferação de empregos no sector público regional.
A campanha eleitoral para as eleições de 9 de Outubro mostra o estertor do protagonista deste “modelo” (nada original).


Jardim, poderá (deverá) resistir ao escrutínio mas estas eleições são o requiem para o modelo populista que tão danosamente alimentou. Daqui a 4 anos é previsível (mais do que certo) que não existarão obras para inaugurar. E, antes disso, com certeza que sairá de cena pela direita baixa… (para usar uma linguagem teatral tão ao gosto do personagem).


Só que o “eclipse” de A J Jardim não liberta os madeirenses de tão pesada dívida. A dívida – não vale a pena espernear – é a pesada herança que Jardim deixa (a obra está lá mas pelos vistos não está paga!). Deixa, sejamos claros, uma pesada dívida não aos madeirenses mas ao País. Porque o problema tem sido posto às avessas. Na verdade, que a actual situação exige – para todos - equidade. E os madeirenses acabam de hipotecar os privilégios inerentes aos propalados “custos de insularidade”, às condições ultra-periféricas e ao parasitismo da sua "imaculada" offshore.


Em resumo, a insularidade dará lugar a austeridade. Quando (...e se) isto suceder não há lugar a reclamações por parte dos madeirenses. Estarão a ser tratados como portugueses de “gema” (até aqui viveram um longo período de excepção). Ponham os olhos no "Continente"...

Comentários

Anónimo disse…
O papa destila hipocrisia
http://www.correiodoestado.com.br/noticias/nazismo-e-comunismo-corroeram-a-fe-diz-papa_125952/
septuagenário disse…
O problema psíquico do colonizado madeirense vai ficar mais caro que a guerra colonial dos anos 60/70.

Aquela geração de burgueses madeirenses como AJJ, vai dar água pela barba aos "parvinhos" "ignorantes" que se sentam no poder em Lisboa.
e-pá! disse…
A "colonização" da Madeira é mais uma fábula neste triste enredo.

A Madeira quando muito emparelhava com outas regiões (até ao 25 de Abril nem região era...) vítimas de um ancestral atraso e um penoso afastamento da modernidade e do desenvolvimento, como Trás-os-Montes, beira Interior, Alto Alentejo, etc.
Paulatinamente - e essencialmente à custa do investimento público - a Madeira saiu dessa "zona vermelha" e hoje o rendimento per capita colocou-a fora das regiões europeias carenciadas.
De maneira que o espantalho do colonialismo é mais um fait divers de Alberto João Jardim...
O que se vai passar é no próximo OE o País ser colonizado por um "buraco" colossal sedeado na "pérola do Atlântico".
Porque nos dias de hoje o grande motor de muitos "neo-colonialismos" é o sector financeiro.
O resto são piruetas...

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