DINAMARCA: Mudanças de fundo ou simples alternâncias…


O Governo da Dinamarca mudou de mãos e de espectro político. A coligação Centro/Direita liderada por Lars Rasmussen perdeu as eleições. link
Uma coligação formada pelos socialistas, sociais-liberais e aliança vermelho-verde, liderada por Helle Thorning-Schmidt, conseguiu obter a maioria.

Esta mudança tem algum significado político em termos de futuro da actual crise europeia?
É prematura qualquer especulação nesse sentido. Na verdade, parecem ser as propostas ao nível económico as grandes responsáveis pela presente alteração política.
Apesar do Governo de Centro/Direita a verdade é que a economia dinamarquesa tem sofrido uma prolongada e profunda recessão. Essa recessão tornou-se inevitavelmente o foco das atenções nestas eleições legislativas. A acrescentar a esta recessão verificou-se o pré-colapso do sistema financeiro, nomeadamente, no sistema bancário. Desde 1998 o Estado dinamarquês sentiu necessidade de intervir em 9 instituições bancárias. A bandeira de esquerda nestas eleições centrou-se na preposição de que, agora, os bancos teriam de compensar a sociedade. Um elementar princípio de justiça económica e social.

Todavia, o denominador comum destas eleições foi criar-se a convicção de que a Esquerda teria mais capacidades em fazer crescer a economia em detrimento de severas medidas de austeridade, apesar do actual défice público atingir 4.6% do PIB. A receita foi simples: combater a crescente onda de nacionalismo que afecta grande número de países europeus e mostrarar-se deteminada numa profunda cooperação económica com a UE.

Finalmente, a rotatividade cega, i.e., o partido que está no poder nos momentos de crise é, invariavelmente, o bode expiatório da situação, terá uma quota parte nesta mudança. Esta rotatividade não atinge exclusivamente os países que, no desenrolar da crise, têm (ou tinham) governos de Esquerda.


Provavelmente, assistiremos no futuro ao progressivo afundamento das doutrinas nacionalistas e populistas que pouco mais têm a oferecer do que austeridade e sucessivas contracções do Estado Social, infernizando a vida dos cidadãos.


É, portanto, necessário que a Esquerda europeia não se barrique exclusivamente atrás das graves questões sociais (de facto importantes) mas tenha - simultaneamente - a capacidade de apresentar alternativas de desenvolvimento económico responsável que, a médio prazo, conduza ao crescimento (à revelia da especulação financeira e do monetarismo puro e duro) e a uma justa redistribuição da riqueza gerada.

Esta terá sido a terapêutica dinamarquesa para este momento mas será também a receita adequada à Esquerda europeia?

Comentários

Eu,um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote (87anos)penso pois que entre o
Centro-Direita e o Centro-Esquerda,
a diferença é de pouca monta,pois se o novo Governo concorda com a participação militar da Dinamarca no Afeganistão e na Líbia,e se um seu cidadão de nome Rasmussen é o actual Secretário Geral da Horda mercenária da Nato,então qual é a
diferença entre a Burguesia da Direita e a Burguesia da Esquerda?
e-pá! disse…
Caro José Gonçalves Cravinho:

Penso que a maioria tangencial obtida por Helle Thorning-Schmidt assenta numa larga coligação com várias sensibilidades de Esquerda.
Quer O Partido Soscialista Popular quer a Aliança Vermelho-Verde mostram muitas reticências (principalmente o segundo) quanto à participação da Dinamarca na NATO.
Pelo será licito esperar que o programa de governo da Srª. Heele Thorning-Schmidt contemple muitas mudanças em relação às actuais políticas...

Para já, uma proposta emblemática, ou seja, em relação aos movimentos migratórios, colocando um ponto final na mais recente política de Direita, apostada em reactivar as fronteiras dentro da UE.

Vamos esperar para ver.

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