Mutilação genital feminina

Os países democráticos e civilizados mantém uma estranha condescendência para com os crimes cometidos em contextos étnicos ou religiosos. A violência contra as mulheres faz parte de uma velha tradição misógina de que as religiões são herdeiras. Entre as barbaridades de que as mulheres são vítimas conta-se, em algumas comunidades, a mutilação genital feminina, um atentado contra a autodeterminação sexual que, com um sofrimento atroz, lhes rouba a satisfação sexual e, não raro, a vida.

Pode dizer-se que a mutilação genital feminina não é uma aberração do Corão nem um crime de natureza africana mas é em comunidades negras e sempre em contexto familiar islâmico que o crime tem lugar no seio da família.

A tradição é a mais abjecta desculpa para a complacência com a perpetuação de crimes que deviam ser perseguidos com o empenhamento das forças policiais, a vigilância cívica dos cidadãos e o rigor do código penal.

Será difícil erradicar, a curto prazo, a ignóbil tradição nas zonas africanas onde perdura, mas é inaceitável que meninas de famílias oriundas dessas zonas sejam sacrificadas em Vale da Amoreira, na Moita, em Portugal.

Apesar de considerada internacionalmente como grave violação dos direitos humanos, a OMS estima em mais de 140 milhões as vítimas submetidas a tal barbaridade e que cerca de três milhões se encontram todos os anos em risco, como recentemente revelou o Diário de Notícias.

Que tais crimes possam ter lugar em Portugal, que a impunidade os possa perpetuar e as autoridades os ignorem, é uma infâmia que envergonha o País e o torna cúmplice, também neste caso, da grosseira violação dos direitos humanos.
Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

E o mais grave e mais triste é que a complacência dos países civilizados para com essas e outras práticas bárbaras e frontalmente violadoras dos mais elementares direitos humanos é justificada não só pela direita religiosa, conservadora e tradicionalista, mas também por uma certa esquerda órfã da defunta União Soviética, que tranferiu para os países islâmicos o seu amor filial por aquela. Esta "esquerda" bem pensante defende essa complacência a coberto de uma ideologia que inventou para o efeito e que pretende fazer passar por politicamente correta: o agora tão proclamado "multiculturalismo".
Manuel Galvão disse…
espero que também se insurja contra a circuncisão.
Rui Cascao disse…
Carlos, não é só em comunidades islâmicas em África que a MGF se pratica. A prática é também generalizada em comunidades cristãs (nomeadamente na Etiópia) e animistas. Esta barbaridade não é uma questão religiosa: é uma prática tradicional dessa parte do mundo, e que se deve principalmente à falta de alfabetização e instrução, bem como a um determinado (e censurável) conceito de moralidade.

AHP: o multiculturalismo é um conceito-quadro incontornável na actual sociedade globalizada. Não só incontornável, mas desejável. No entanto, a adopção de uma política multiculturalista não implica necessariamente a aceitação de toda e qualquer prática de uma determinada comunidade étnico-cultural: existe sempre o filtro do "mínimo denominador comum" (aliás o critério empregue nas convenções internacionais sobre direitos humanos e frequentemente reafirmado pelo TEDH).
Por outro lado, as referências culturais que não são tradicionalmente europeias não devem ser consideradas de forma monolítica (dois exemplos: 1) o considerar que o Islão é uma referência cultural negativa no seu todo e 2) o considerar que a cultura europeia é superior às outras). Pelo outro, há uma certa tendência para uma indução amplificante abusiva, ou seja tomar o todo pela parte, que só intoxica a opinião pública e alimenta a ideia do "conflito de civilizações" (se alguns- uma minoria reduzidíssima- dos muçulmanos pratica essa barbaridade da MGF, logo o Islão- no seu todo- é uma religião bárbara).
Outra questão ainda prende-se com a possibilidade de aceitação jurídica de determinados aspectos culturais de uma determinada comunidade. Aspectos haverá que poderão não ser demasiado chocantes para a ordem pública de um determinado estado. Exemplos: 1) se segundo o direito sucessório de alguns países europeus, não existe legítima (ou seja, o testador pode validamente nada deixar aos seus descendentes ou ao seu cônjuge), porque motivo não se deverá aceitar a aplicação de disposições da Sharia sobre direito sucessório? 2) se em alguns países europeus (entre os quais Portugal) se admitem formas mais extravagantes de constituição da família, porque não se deverão reconhecer parcialmente os casamentos polígamos (por exemplo, para efeitos de reunificação familiar em direito da imigração, ou por exemplo para efeitos de prestação de alimentos)?
O que não se deve confundir com práticas que não podem ser em absoluto toleradas, como a MGF, que é proibida e criminalmente sancionada em quase todos os países em que é praticada (e infelizmente é impossível mudar mentalidades por decreto).

Manuel Galvão: a circuncisão do prepúcio masculino tem benefícios claros e cientificamente comprovados para a saúde de uma pessoa.

E, já agora, não deixo escapar a oportunidade para deixar aqui esta questão provocatória: e o silêncio da cultura ocidental quanto aos piercings genitais e à modificação/mutilação genital que prevalece em determinadas "tribos urbanas" e que tem génese no ocidente?
Eu gostaria que ahp definisse qual
é a esquerda orfã a que êle se refere,pois essa esquerda deve ter um nome.No que respeita à União Soviética,ahp saberá até melhor do que eu que sou um simples operário emigrante,que Soviete é o equivalente a Concelho ou Comarca ou Autarquia.Não é nenhum bicho de sete cabeças.Quanto ao derrube da União Soviética,pois foi a Pulhice Humana que corrompeu o Ideal que pretendia construir uma Sociedade Socialista na Rússia czarista que agora tem um Regime de Capitalismo
selvagem de gente corrupta e que é abençoado pela Igreja cristã ortodoxa que sempre apoiou o Czarismo.

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides