O homejacking e ilações políticas de conveniência…


O que têm em comum Manuel Alegre e Gabrielle Giffords?


Na verdade, o artigo do “Expresso” começa por questionar esta abstrusa interrogação.
Diz, em sub-título: “Um teve a casa assaltada em Águeda; a segunda foi alvo de um atentado no Arizona. Não são casos comparáveis. Mas poderá o discurso político instigar à violência e à criminalidade? Sobretudo em tempo de crise?"

O autor de tão descabida formulação começa por “criar” a premissa de que Manuel Alegre alimenta um “discurso político feito de insinuações, de rumores, de suspeitas, de argumentos ad hominem, contra a pessoa. No fundo, a política torna-se um mundo onde vale tudo”.
Na senda de procurar justificações que esclareçam aquilo que reconhece ser “um caso de polícia” volta-se para análises comparativas de circunstâncias que nada têm em comum.

Manuel Alegre não é Sarah Palin, uma das instigadoras políticas de crimes como a "matança de Tucson".

A campanha de Manuel Alegre tem sido, essencialmente, a reafirmação de princípios doutrinários que informam uma visão socialista [ou se quisermos social-democrata] do exercício do poder presidencial de acordo com o quadro constitucional português. Assenta, essencialmente, na defesa do Estado Social, um modelo das sociedades europeias, tanto mais arreigado, quanto mais evoluídas são as mesmas. Manuel Alegre, tem posto o acento tónico no combate ideológico.

Situações pessoais – que de facto entraram na campanha – foram partilhadas por todos os candidatos, não sendo necessariamente insinuações, rumores ou suspeitas… São questões de carácter, comportamentais e, acima de tudo, éticas. Da ética republicana.
E, se houve excessos retóricos – habituais em campanhas eleitorais - no dissecar dessas questões o grande responsável tem sido o candidato da Direita [Cavaco Silva] que se esconde atrás de um muro de silêncio, deixando o campo aberto a todas as especulações.
Mas o articulista denuncia uma visão enviesada da realidade quando, mais à frente, volta a comparar situação de Cavaco Silva em relação ao BPN com o artigo que Manuel Alegre escreveu a solicitação do BPP. Perante esta forçada e aberrante analogia não são necessários outros [ou mais] argumentos.

Na realidade, as diferentes disputas que esta campanha presidencial tem revelado são de natureza ideológica. E ao imiscuir na análise da campanha questões laterais como o “assalto” à casa de Manuel Alegre é, pura e simplesmente, entrar no terreno da efabulação política.
Isso sim, é o modelo que, nos EUA, o Tea Party, explora. Tendo como pano de fundo incorrigíveis ódios e vícios democráticos que, numa situação de crise económica, geram violência[s].
O Tea Party não será um partido nazi, segundo o modelo europeu, mas é [mais] um agrupamento de neoconservadores que se dedicam a explorar profundas contradições da sociedade americana onde fenómenos como a xenofobia e o racismo, a contestação dos avanços no campo dos Direitos Cívicos [ex.ºs: a reforma do sistema de saúde, a interrupção voluntária da gravidez, a homofobia, etc.] são, por excelência, o campo de batalha.

No "massacre de Tucson", estarão ainda presentes questões mais complexas, como por exemplo, o uso e porte de armas em locais públicos, medidas policiais persecutórias para com os emigrantes, o narcotráfico, o branqueamento de capitais, etc. Estas foram as verdadeiras razões porque Gabrielle Giffords foi baleada. Mas os crimes – mesmo os de índole política – não surgem de geração espontânea. E, por detrás do massacre de Tucson, está um modelo de luta política baseada no ódio e obviamente na defesa de um conjunto de interesses [valores?] que se entroncam num modelo de desenvolvimento baseado na concepção de um tipo de vida puritana, de exaltação do trabalho, da incansável luta por oportunidades e pelo sucesso [prosperidade], professada pelos protestantes [não exclusivamente sob a perspectiva religiosa], foi inicialmente dominada pelos princípios sócio-culturais dos quackers, luteranos, calvinistas e, finalmente, pelos evangélicos.
Um assunto que nos levaria a interessantes análises, inclusive, comparativas e evolutivas. Por exemplo: a similitude entre os modelos de desenvolvimento dos EUA e a Europa Central e do Norte, na época pré-industrial e industrial.

A situação ocorrida em Águeda na casa de Manuel Alegre é, para já, um caso de polícia. Todas as especulações tecidas ao seu redor são gratuitas. E o assunto deveria ficar sossegado a aguardar as diligências policiais.
Todavia, a tentativa de estabelecer um enquadramento comparativo entre um assalto a uma residência de um político e o “massacre de Tucson” é, de facto, uma violência [contra a capacidade do cidadão comum intuir], uma gratuita especulação jornalística [comparando o incomparável] e uma manifesta manobra manipulação [pela utilização do medo] da campanha em curso.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides