Um inoportuno e demitente “espião”…

A demissão de Jorge Silva Carvalho director do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) pode ser observada, à primeira vista, como um acto de rotina. tv1.rtp.noticias

Mas a sua divulgação - hoje - é desastrosa para o Governo. Estamos nas vésperas de uma importantíssima reunião internacional que envolve minuciosos e complexos esquemas de segurança.

Embora, a sua acção seja essencialmente virada para o exterior, através de diferentes “antenas” colocadas estrategicamente em diferentes países, as informações aí colhidas serão cruciais para organizar a segurança interna e prevenir sobressaltos.

A demissão ocorreu há 1 semana e, conhecendo os efeitos desta decisão, o Governo terá tentado, mas não conseguiu, protelar o anúncio público desta ocorrência para depois da Cimeira da NATO.

Significa isto que o Governo perdeu o pé. Não tem autoridade, nem a complacência tácita dos seus servidores. Neste caso de homens treinados para obedecer e cumprir espinhosas missões na maior discrição.
O anúncio público desta demissão poderá ser observado de vários ângulos, ou apresentado como uma "coincidência", fruto de múltiplas circunstâncias...
Haverá, contudo um motivo que não poderá ser iludido. Jorge Silva Carvalho não se mostrou disponível para colaborar com contenções orçamentais que, em seu entender, colocam em causa a qualidade e a eficiência da sua missão.
Mas não tardará o anúncio de que o encerramento de 7 "antenas" no exterior não afecta a segurança do Estado... O que se fosse verdade seria uma espontânea confissão que desde há pelo menos 2 anos o Governo tem desperdiçado dinheiro na manutenção em actividade dessas antenas, agora, apodadas de “inúteis”…

Estamos em período de austeridade. Todavia, austeridade não significa cortar a eito, cegamente. Muito menos retirar o tapete [colocar num colete de forças orçamental] a quem – segundo os dados curriculares disponíveis – estava a desenvolver um trabalho qualificado e profícuo, na defesa dos interesses nacionais.
Na verdade, para muitos cidadãos um serviço de informações estratégicas poderá parecer um luxo. Mas, não devem restar dúvidas de que a segurança dos cidadãos portugueses deve ser [também] tratada lá fora. Ameaças como o terrorismo internacional, o crime organizado, o tráfico de armas e estupefacientes, os esquemas de corrupção financeira, etc. começam, muitas vezes, lá fora… em “paraísos” para todos os gostos.

É muito mais fácil entender e aceitar um serviço de informações estratégico no exterior do que sistemas de segurança interna [SIS] que não tenham uma fiscalização permanente e efectiva, como acabou por se verificar no[s] caso[s] dos voos da CIA que utilizaram aeroportos portugueses para apoio logístico a transferências de "prisioneiros" de guerra ... à margem do Direito Internacional.
E, finalmente, um serviço de informações interno corre sempre o risco de fazer reviver o anátema histórico [48 anos de ditadura - PVDE, PIDE, DGS...] de uma “viragem”... tornando-se uma muleta de políticas repressivas de um qualquer Governo [o futuro é amanhã], espionando, sem controlo, nem fiscalização, portugueses e portuguesas em pleno exercício dos seus direitos de cidadania …
É por esses motivos [cautelar e histórico] que, nas questões de segurança do Estado, entendo o seguinte:
Serviços de Informação governamentais, não! // Serviços de Informação da República, sim!

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