Amado nas [em] “Necessidades”

O apelo do ministro Luís Amado à formação e consolidação de um “Bloco Central” para enfrentar eficazmente a crise é, indubitavelmente, o facto político do dia. Link
Infelizmente, este veemente apelo “para salvar o euro”, é o contornar dos mecanismos democráticos existentes para resolver os graves problemas que Portugal enfrenta. Um acordo de emergência, extraordinário, à revelia das intenções do leque partidário representado na AR, será sempre efémero se nada mais tiver por detrás do que o intuito de “impressionar os mercados”...

Aliás, este “apelo” é absolutamente despropositado no actual momento político. Ele dá suporte, quando não continuidade, ao alinhamento político do discurso de Cavaco Silva no último 25 de Abril que, explicitamente, defendia alianças partidárias para enfrentar os graves problemas nacionais.
Embarcar nesta jogada é entregar-se à Direita. Primeiro, porque este apelo não pode deixar de ser conotado com um atestado de dificuldades [para não dizer uma declaração de incapacidade] da Governação. Depois, parte de uma avaliação irrealista da actual relação de forças inter-partidárias.
O Centro e a Direita só se coligariam com o PS se tal “sacrifício” valesse a pena. Isto é, sedimentasse a sua influência eleitoral.
Não é o caso neste momento político. Daí a inutilidade de sugestão que só poderá causar engulhos no interior do PS.

De resto, como sucedeu na experiência de Bloco Central protagonizado por Mário Soares e Mota Pinto, Cavaco Silva neófito na liderança do PSD, rompe com esta coligação e parte para eleições, em 1985, donde saiu vitorioso [maioria relativa que o lançou para as maiorias absolutas].
Esta será uma estratégia política, ainda, remanescente no PSD. O PSD está convencido que o poder lhe cairá nas mãos em meados de 2011. Não precisa, nem seria benéfico para a sua imagem passar por esta provação.

O Bloco Central, como foi possível observar nas declarações públicas de dirigentes do PS e PSD – já depois de acordada a “passagem” na AR do OE 2011 – não é nenhuma solução de estabilidade, nem politicamente coerente. Quando muito seria um “arranjo” que não impressionaria “os mercados”, nem asseguraria qualquer estabilidade política.
Na verdade, existirão em Portugal elites políticas, económicas e empresariais para as quais um modelo de governação do tipo Bloco Central serviria os seus interesses. Mas os interesses dessas elites, neste momento, estarão divorciados dos grandes problemas nacionais, europeus e mundiais. São interesses caseiros medíocres e muitas vezes mesquinhos.

É compreensível a preocupação, o cansaço e a desilusão que o ministro Luís Amado “expressa”.
De certo modo, representa o pulsar de uma ala mais conservadora do PS. Que não sente repugnância por soluções de compromisso, por mais irrealistas que sejam, desde que assegurem a continuidade no Poder. Até se mostra disposto a abdicar do seu lugar de Ministro [como se de um feudo se tratasse]. Mas, Luís Amado, sabe que a Direita – se em alguma extraordinária circunstância aceitasse o Bloco Central – não era a sua cabeça que exigiria. Seria, sempre, a de José Sócrates...

O Ministro Luís Amado apressou-se a levantar uma questão artificial ao arrepio do sentir das estruturas partidárias socialistas. Não é a primeira vez que o faz. Já o tinha ensaiado na questão da inscrição do limite de endividamento na Constituição. Não teve qualquer eco no interior do seu partido. Mereceu a reprovação explicita de Sócrates na AR [em resposta a pergunta de Paulo Portas].

Mas, desta vez, a questão artificial levantada, e a inoportunidade da sugestão, não são factos políticos inocentes, nem inócuos.
Eles servem – a médio prazo - a candidatura de Cavaco Silva.
Quando Cavaco Silva prega a bonomia de um Bloco Central, não é isso que sente. Pensava o pior do Bloco Central na década de 80 e não viveu nenhum sobressalto histórico que justifique mudanças de atitude.
Luís Amado é que, apressadamente, embarcou neste bote.

Comentários

Por uma Democracia sem votos ( ou sem povo ), viva a República de Platão, de Sócrates definitivamente , não.

A direita, bom não insultemos a direita, esses agrupamentos que vulgarmente entre nós se designam de direita, esgotada a politica da insidia e da calúnia, duvidando do povo e das sondagens feitas à Lapa, agora ensaiam uma nova estratégia : chegar ao poder sem votos , pois isso de votos é sempre muito pouco Seguro. Arauto desta estratégia, bom quem seria mais adequado? Pois, Paulo Portas, sim aquele que navega no mar da Palha, ou melhor rente ao fundo, responsável por mais de mil milhões em submarinos e em financiamentos partidários titulados por nomes jocosos como Jacinto..por pudor fico por aqui.

Em nome da salvação nacional, receando enfrentar a tempestade que aí vem, concluindo que sem o PS (ou contra)é tarefa impossível, cientes que o novo líder só produz patetices, aí estão eles disponíveis para salvar o país . Esquecem-se que nos momentos mais tormentosos da nossa história, enquanto grande parte das nossas «elites» se vendia a Espanha, foi o povo capitaneado por bastardos que conduziu Portugal á vitória.

Todavia isto de povo sai muito caro, então educá-lo, dar-lhe saúde , reformas, bom isso está bom lá para o centro e o norte da Europa pois essa malta lá trabalha. Aqui eles só produzem na Auto-Europa, vai-se lá saber porquê …mistérios.

Por isso Salvação Nacional sim ,mas aquela de Platão, eleito mas não elegido, a de Sócrates definitivamente não.

PS.O responsável pelo maior roubo da história portuguesa, já se passeia em liberdade, essa é outra República…a dos juízes.

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