OE/2011 - PS/PSD: o concílio das ilusões...

Depois de vários episódios rocambolescos, em que se trocaram várias picardias, proferiram-se vários dislates, insinuaram-se vários complots, esgrimiram-se chantagens, bramiram-se tabus, Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga chefiam 2 delegações [partidárias?] a fim de negociarem o OE para 2011, a partir de sábado.

Em primeiro lugar, o que está em causa é a viabilização - a todo o custo - da proposta orçamental apresentada pelo Governo.
Essa viabilização serve prioritariamente a necessidade de não enxertar na crise económico-financeira uma outra - a política. E neste ponto existe convergência de interesses PS/PSD.
Ao PSD não serve um clima de agitação social e política que preceda e perdure na campanha eleitoral de Cavaco Silva. O futuro político do PSD gravita à volta do futuro PR.
Ao PS, sob um corrosivo desgaste de popularidade e, também, de credibilidade, que se colou à sua governação na gestão da crise, este não é o momento azado para forçar a ruptura [que a anunciada demissão do Governo acarretaria].

Resta-nos questionar que tipo de entendimento[s] poderá[ão] ocorrer como resultado destas negociações.
As públicas qualificações tecidas pelos orgãos dirigentes do PSD sobre as "virtudes" desta proposta de OE vão desde o mau, ao péssimo, passando pelo reles, malfeito, nocivo, funesto, etc. O que se pretende - vamos por as coisas no seu lugar - é que o PSD esqueça o substrato partidário e a avaliação político-economica que informou todos os qualitativos [depreciativos] que teceu e deixe passar o OE/2011. Não importa como. Poderá repetir uma situação que é conhecida da gíria política portuguesa: "engolindo um sapo..."

Embora possam surgir alterações de pormenor - tanto desta negociação como na discussão na AR - o objectivo fulcral é no mínimo a abstenção do PSD na votação em plenário. E uma das razões [soberanas] invocadas é dar "aos mercados" um sinal de convergência política. Fraco argumento num mundo onde a informação circula rapidamente e sem peias. A mensagem que vai passar para o exterior é que o PSD agachou-se a uma situação de inevitabilidade por mera conveniência partidária . O resto não é política será pura ficção. Falar - para os portugueses, para a UE, para o FMI, para o BCE, para as agências de rating, etc. - em acordo político sobre o OE é, nitidamente, tomar a nuvem por Juno.

O PSD vai agachar-se da sua recente e renovada sobranceria de partido neoliberal em refundação corporizado por Pedro Passos Coelho ao oportunismo e à conveniência do momento. O meteórico político vindo da "jota" afunda-se em profundas contradições como os demais que o antecederam [e nos últimos anos foram muitos...].
Não vale a pena gastar o latim a invocar o "interesse nacional". Por uma simples razão: toda a gente sabe [cá dentro e lá fora] que não é [não foi] assim! Foram interesses circunstanciais.

Fernando Pessoa, no seu incontornável "Livro do Desassossego", escreveu:
"Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos... "
É neste estadio que nos achamos quando olhamos para mais este fait divers [político ou circunstancial, à escolha do leitor].

Comentários

Manel disse…
Enquanto Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga reunem à vista de todos, Sócrates e Cavaco negoceiam do outro lado do pano, enquanto comem coelho à caçador.
e-pá! disse…
Manuel:

O problema não é discutir o OE, tentar encontrar um consenso nacional, o mais sólido e alargado possível, facto que é mais do que justificado pela gravidade da crise portuguesa.

A questão continua a ser - na realidade - não se ter conseguido um consenso político, económico e social, sobre como combater a crise, bem como, acerca das medidas a tomar e, nas vésperas da sua discussão pública, tentar "cozinhar um esquema" para inglês ver...
Na verdade, insistimos na via do "xico-espertismo" uma das causas endógenas desta crise.

E o trágico será que mesmo com um OE/2011 aprovado, vão continuar os pesados sacrfícios dos portugueses e acentuar-se as pressões dos mercados financeiros...
Se conseguirmos controlar o defice orçamental, o próximo problema será um crescimento económico nulo[ou mesmo a recessão], se crescermos acima do esperado [o improvável], virá à liça o excessivo peso da dívida pública, etc...
Enfim, uma pescadinha de rabo na boca.

Enquanto não rompermos este círculo vicioso, viveremos [mal] na órbita destes [ancestrais] vícios...

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