A encenação de uma crise política…

O ambiente político entre o Governo [PS] e o principal partido da Oposição [PSD] está ao rubro numa altura em que importantes decisões políticas definidoras dos contornos do próximo OE, exigiriam uma maior convergência de esforços e uma franca cooperação institucional.
Os portugueses assistem estupefactos a este lamentável confronto político. Sabendo quais são as grandes questões que estão em cima da mesa – elas inquinam o presente e irão afectar-lhes o futuro – não confiam que estejam a ser dados os melhores passos na resolução dos problemas.

As negociações prévias sobre o OE são difíceis e implicam jogadas de alto arrojo – em consonância com concepções doutrinárias dos partidos em [secretas] conversações – mas, será extremamente negativo para a confiança dos cidadãos, a ínfima percepção de que, qualquer uma das partes, possa estar a fazer bluff.

O clima é de pré-crise [política]. Paira a sensação de que jogamos as derradeiras oportunidades de resolvermos os preocupantes problemas orçamentais e da dívida pública.
Se falharmos é uma importante fatia do orgulho nacional e da confiança política nas instituições que acabará - irremediavelmente - destruída.
Por aqui e por acolá, ouvimos velados anúncios solicitando o recurso a fundos europeus de emergência ou, na pior das hipóteses, à intervenção do FMI.

O Governo – na periclitante situação política em que está [governo minoritário] – caminha perigosamente para a uma situação de orfandade [interna].

O espectro político à sua Esquerda [PCP e BE] há muito que cortou as pontes de comunicação argumentando concepções diametralmente opostas [eurocépticas] sobre o modo de enfrentar e resolver a crise, sob os auspícios da Comissão Europeia da UE e do BCE.
Resta ao Governo virar-se para o Centro-Direita.
O PSD recusa-se a discutir previamente o novo OE. Prefere aguardar que o actual Governo o publicite para, depois, explicitar divergências e colher eventuais dividendos partidários que acalentem ambições a curto prazo – o programado “assalto” ao poder.
A Direita [CDS] aparentemente não tem um projecto empenhado e estruturado para a resolução da crise. O alongamento da crise dá-lhe trunfos. Prefere jogar no tabuleiro das soluções pontuais, ao sabor das reclamações das feiras… desde a segurança, passando pelos cuidados paliativos e acabando na imigração.

O Governo para além de estar a ser “empurrado” para um o isolamento [político] está refém dos compromissos que assumiu em Bruxelas.
O PSD também está neste barco. A política europeia que, de perto, tudo controla, é - nem mais nem menos - sustentada pela sua família [política] – o Partido Popular Europeu. Só que o PSD não assume essa condição na sua plenitude. Dá pontualmente o seu aval a medidas datadas no tempo [PEC’s anuais].
Não quer meter a mão na massa, prefere ser reverente e obrigado em Bruxelas e intransigentemente rebelde na política doméstica, para cultivar um espaço de alternativa.

Se não existir – de parte a parte - a elevação necessária para ultrapassar objectivos imediatistas [sondagens e posicionamentos eleitorais] o País vai perder a paciência, arcar com uma tremenda descrença e as convulsões sociais fustigarão a sociedade.

O PS sustenta o Governo e o PSD é o principal partido da Oposição. Aqui, não há alternativas. Serão, qualquer que seja o desenlace [para o bem e para o mal] os responsáveis pelo sucesso e os bodes expiatórios dos eventuais descalabros. Não há 3ªs vias.

Porque, finalmente, há outra constatação subjacente. Os floreados de retórica a que assistimos não correspondem à dramática situação em que nos encontramos. São toscas encenações.
Se o OE para 2011 obtiver a boa nota de Bruxelas, quer o PSD, quer o PS, aprová-lo-ão no escuro…às cegas!

Assim, no âmago desta violenta crispação e azeda troca de galhardetes não está em incubação uma crise política. Estará, antes, o insustentável desejo de ao subscrever um Orçamento de Estado, com pesadas medidas de austeridade no seu bojo, ambos tentarem manter a cara lavada. Mas, a verdade é que esta crise não só conspurcou o mundo financeiro. Infectou, também, a transparência política. Ninguém sairá daqui com a cara limpa, isto é, incólume.

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