Um mediático entretenimento sobre as presidenciais…


A ideia transmitida – pela generalidade imprensa neste fim-de-semana – de que a questão dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo poderá ter um papel crucial se nas próximas eleições presidenciais, não passa de um fait divers com a finalidade de agitar [animar?] o período pré-eleitoral.

A “dura e inusitada” reacção do cardeal de Lisboa à promulgação da referida Lei, por Cavaco Silva, o que de real trouxe à ribalta política foi a oculta - mas persistente - concepção da ICAR sobre vivência democrática.
Pelos vistos, a Igreja católica sonha, ainda, com o exercício de poderes tutelares (ocultos) sobre os órgãos de soberania e de decisão política. São séculos de uma continuada prática que – nos momentos de crise – vêm, com ligeireza e despudor, ao de cima. É - para espanto dos portugueses - o imediato aproveitamento político de uma visita dita apostólica, plena de situações de proselitismo e, para inglês ver, travestida de “visita de Estado”.

O cardeal Policarpo ao ser mais severo para Cavaco Silva do que, na aparência, terá sido relativamente ao Governo e às forças políticas [de Esquerda] que, em sede própria [Assembleia da República] se concertaram para a aprovação desta Lei, mostrou até que ponto a ICAR acha que convicções pessoais [de índole religiosa] devem [ou podem] imiscuir-se e influenciar assuntos de Estado, “torturando” as instituições democráticas.
Na verdade, esta reprimenda do patriarcado de Lisboa, ou da Igreja portuguesa, será, a trágica e maquiavélica ironia que, de certo modo, “premeia” [...passe mais esta ironia] a vergonhosa subserviência de Cavaco Silva - na qualidade de representante da República - publicamente exibida, durante a recente estada de Bento XVI em Portugal.

Mas o que é realmente delirante será o fictício agitar de águas no Centro-Direita à volta desta questão. Este [Centro-Direita], independentemente de todas as crendices e de preconceitos moralistas, vive obcecado na consolidação e na calendarização de uma estratégia do “assalto” ao poder, para controlar simultaneamente a política, a economia, o(s) mercado(s) financeiro(s), etc. E essa estratégia - no actual quadro institucional - assenta na pressuposta reeleição de Cavaco Silva.
Todos sabemos que, em questões vitais para o "seu" futuro, a Direita raramente se divide. Pelo que, a agitação mediática deste fim-de-semana, será um mero fogacho “pour épater le bourgeois”.

Não deverão ser as imaginárias fracturas do interior do Centro-Direita que devem alimentar as pretensões e definições estratégicas da Esquerda [...já dividida?], no que diz respeito à próxima eleição presidencial.
Na verdade, será necessário ter presente que, por detrás de todas estas simulações, “… outro valor mais alto se alevanta”, como escreveu o poeta.

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