Blasfémia!


E se alguém pensava que o fanatismo que a religião traz às pessoas não nos aquece nem nos arrefece aqui nesta boa e velha Europa, precisamente porque o fanatismo é qualquer coisa distante e exclusiva dos países islâmicos e dos pacóvios evangélicos dos recônditos interiores americanos, a resposta aí está:
- Neste início de ano 2010 assistimos à entrada em vigor na Irlanda de uma lei miserável e imbecil que criminaliza a blasfémia.

Assim como uma espécie de justificação desta aberração cretina e anacrónica – e até perigosa – o ministro da justiça irlandês veio dizer que esta nova lei se justifica porque criminaliza a blasfémia proferida não só contra o cristianismo mas também… contra todas as religiões!

Como se não bastasse, a lei define como blasfemas quaisquer declarações consideradas abusivas ou insultuosas em relação a matérias consideradas sagradas por qualquer religião e que causem revolta a um número substancial de fiéis dessa religião.

É absolutamente típico das «pessoas de fé» considerarem-se muito ofendidas contra qual-quer afirmação que contrarie ou ponha em causa os dogmas e as idiotices da sua religião. Decerto porque, lá no fundo, são os primeiros a reconhecer que qualquer religião é, antes de mais, profundamente ridícula.

É por isso que estes piedosos fiéis são sempre os primeiros a tentar limitar as liberdades e os direitos fundamentais dos outros, seja de quem professa outra religião, seja de quem não professa religião nenhuma.

Mas a resposta não se fez esperar: o «Atheist Ireland», um grupo que se reclama ser representante dos ateus irlandeses, já reagiu contra esta lei e fez publicar no seu website diversas «citações anti-religiosas» de ateus famosos, de Richard Dawkins a Björk, passando por Frank Zappa e que podem ser lidas AQUI.


Por mim, continuarei a blasfemar por aqui sempre que isso me der na real gana.
Porque, como diz Thomas Jefferson,
«O ridículo é a única arma que pode ser usada contra proposições ininteligíveis».

Comentários

andrepereira disse…
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos não pode pactura com esta pouca vergonha. É preciso processar o Estado irlandês logo que possível!
Mas atenção, que nós temos o art. 240.º e o 252.º do Código Penal. Mas parecem-me razoáveis e não se conmfudem com a blasfémia.

Artigo 252.º
Impedimento, perturbação ou ultraje a acto de culto
Quem:
a) Por meio de violência ou de ameaça com mal importante
impedir ou perturbar o exercício legítimo do culto
de religião; ou
b) Publicamente vilipendiar acto de culto de religião
ou dele escarnecer;
é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de
multa até 120 dias.
andrepereira disse…
Lendo o link indica, parece-me que está bastante próxima da lei portuguesa. Tudo isto merec e mais reflexão da minha parte. A pessoa jánão pode rir de quem vai pela N1 a pé a Fátima...?! AInda se fizessem uns caminhos pelo meio da natureza...?!
André:

O autor do post, como sabes,é advogado.

Como há 4 juristas no Ponte Europa, é altura de esclarecerem os leitores.

A lei da blasfémia é medieval.
Julio disse…
Jesus blasfemou contra os fariseus e foi por isso eliminado do número dos vivos por tão pouco.
Paulo foi um terrível blasfemo, pois AMALDIÇOOU toda a cristandade desde os seus dias, ao determinar por escrito [Gálatas 1:7-8] que quem não alinhasse pelo seu lado seria MALDITO duas vezes!
Nessa maldição canónica estão incluídos TODOS os papas e seus agentes tenebrosos, que passaram a fazer estátuas do camarada de Tarso e a dar-lhes beijos antes das refeições, ao deitar e ao levantar, mais todo o COMÉRCIO que arrecadou enormíssima riqueza para os ditos amaldiçoados.
Blasfémia é para morte, quando o produto é ganho para a Religião Oficial.
...
Blasphemy [Catholic Encyclopedia]
http://www.newadvent.org/cathen/02595a.htm

Atheists challenge Ireland’s new blasphemy law
‘Grossly abusive or insulting’ comments can now result in $35,000 fine

http://www.newadvent.org/cathen/02595a.htm
e-pá! disse…
Mais uma lei que nasce das entranhas do medo...
Do tal medo que como é referido num post de AHP, citando Alexandre O'Neill, nos torna ratos, e, por fim e paulatinamente, nos vão retirando e cerceando as liberdades...

Na verdade, a Irlanda, dentro deste tipo de matéria, deveria apressar-se a legislar contra instituições religiosas que ocultam escandalosos actos de pedofilia praticados no seu seio e, depois, tentam furtar-se à justiça.
Os pedófilos de sacristia, ia a dizer, os "ratos de sacristia", podem dormir descansados.
Tudo o que for denúncia destes nefastos e vergonhosos crimes, poderá, de futuro, na Irlanda, ser considerado uma "blasfémia"!.
Não é?
.
Julio disse…
Sei que é “blasfêmia”, mas o sacana do corrector “Flip” dá-me sempre “blasfémia”! Entre outros erros ortográficos... já nem ligo.
“Corretor”, na nova ortografia.
andrepereira disse…
A grande questão está na interpretação do acto de vilipndiar ou escarnecer.

"b) Publicamente vilipendiar acto de culto de religião
ou dele escarnecer;
é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de
multa até 120 dias."
Para esta norma estar de acordo com o direio fundamental à livre expressão, deve apenas abranger o acto de agressão verbal com intenção discriminatória, e não a critica, sátira ou mesmo menosprezo pelas opiniões ou rituaisde uma religião.
Punir a blasfémia qua tale é uma barbaridade inadmissível nos dias de hoje.
Quer pelo seu significado, quer pelas suas conotações - os milhões de crimes contra a humanidade que em seu nome têm sido cometidos - a palavra "blasfémia" é indigna de figurar na lei penal de qualquer país civilizado, para denominar seja que comportamento for.
Mas se, ainda por cima, tal palavra é usada com o conteúdo que Grave Rodrigues refere, é absolutamente inadmissível considerar tais actos como crimes, chamando-lhes seja que nome for.
Mas, concordando com a linha de raciocínio de e-pá, parece-me que tal lei foi feita menos para proteger o deus cristão da maioria dos irlandeses do que para evitar que se belisque o deus de Maomé. Ou seja: essa lei foi ditada pelo medo do fanatismo islâmico.
Como diz André Pereira, impõe-se que o TEDH e a opinião pública europeia condenem essa lei.
É que, se seguirmos por esse caminho, acabaremos todos por ser reféns da Al Qaeda!"Como ratos, sim, ratos"!

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