O cardeal, o céu e a homofobia

Um cardeal da cúria romana precisa decerto de muitos jejuns, ave-marias e sacrifícios pios para ornamentar o toutiço com o barrete cardinalício. Há muitos bispos dispostos a perder a cabeça por semelhante adereço. Não basta que passem horas a ler o breviário, a dizer missas e a besuntar crianças com os óleos do crisma, é preciso que o papa, ajudado pelo Espírito Santo, veja, nesse prelado, carisma para lhe conceder o barrete.

São insondáveis as razões que levam um pontífice a ornamentar a cabeça de um clérigo com o barrete cardinalício. A inteligência e o bom senso não são para aí chamados.

A invenção do Céu, do Inferno, do Purgatório e do Limbo não foram apenas respostas a problemas de ordem teológica, foram instrumentos criados para alimentar o negócio da fé. Agora, apenas persiste o Céu, como derradeiro condomínio, quando se reduzem os interessados no sector imobiliário da eternidade.

A crença em Deus e no Paraíso vai-se aligeirando, mas há sempre um bispo que, apesar disso, resolve excluir alguns crédulos e exonerá-los da bem-aventurança eterna.

O cardeal mexicano Javier Barragan resolveu excluir os transexuais e homossexuais do Reino dos Céus. É curioso que o Paraíso tenha como paradigma a monarquia. Podia ser uma República, mas a caverna divina ainda não evoluiu para formas democráticas.

O deus do cardeal Barragan é um poço de contradições. Na sua omnipotência cria os transexuais e homossexuais e, depois, nega-lhes a companhia que promete aos que o não são.

Não é o desvario de um cardeal da Cúria que surpreende, é a quantidade de pessoas que ainda o leva a sério. Um ancião com vestidos garridos, preso ao báculo, a fazer gestos cabalísticos, produz um espectáculo divertido mas um velho oráculo que sabe quem vai para o Céu e quem fica em terra é um cobrador de bilhetes a informar que o veículo está cheio.

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