AMINETU HAIDER NO PE: a ignomínia de uma infame desonra!


O Parlamento Europeu recusou, com os votos do PPE e do PSE, condenar Marrocos pelo seu comportamento em relação à activista saharaui Aminetu Haidar.
Haider, já chamada a Ghandhi do Sahara, não começou a greve de fome para forçar o regresso à sua Pátria, ontem. Está em greve desde 16 de Novembro, i. e., há mais de 1 mês. Com as facilidades de comunicação actuais já decorreu tempo mais do que suficiente para a actuação dos canais diplomáticos…
O PE preferiu, por maioria, adiar a resolução para dar mais espaço e tempo para a continuação das iniciativas diplomáticas.
Teve vergonha de afirmar a verdade: preferiu não hostilizar Marrocos. As razões todos conhecemos – entroncam-se nas relações económicas e comerciais, das quais as quotas de pesca nas suas costas serão um dos aspectos mais visíveis.
Refira-se que o governo de Marrocos já manifestou no passado dia 15 o seu “espanto” e a sua “decepção” pelo voto de solidariedade aprovado na Assembleia da República portuguesa em 27 de Novembro.

A UE continua a manifestar-se a várias vozes, desprestigiando, diminuindo e desqualificando o seu papel perante a comunidade internacional.

A Europa enquanto comunidade política, apesar do Tratado de Lisboa, continua a não existir. Será necessariamente assim enquanto durar a hegemonia da Direita (dos interesses) no PE. Incompreensível, por outro lado, é a atitude do PSE, um partido que congrega multiplas formações políticas que se organizam à escala europeia (e mundial) mantendo a fórmula de “Internacionais”.

A UE, através do seu órgão parlamentar, renegou parte fundamental da sua herança democrática contemporânea. No pós-guerra, a política externa da Europa sofreu uma inflexão de 180º. Encerrou-se o ciclo colonial com base no direito à autodeterminação dos povos. A consequência prática, que os portugueses conheceram, foi o manifesto e explicito apoio aos movimentos de libertação do colonialismo, por todo o Mundo.

Hoje, o PE fez-nos recuar dezenas de anos. Um gigantesco passo atrás. Um tremendo retrocesso na luta pela liberdade dos povos e na exigência do cumprimento das disposições da ONU.
…Quaisquer que sejam os resultados das diligências, de última hora, de J L Zapatero.

Comentários

Rui Cascao disse…
E-pá, não me vai levar a mal, mas a decisão do PE é compreensível do ponto de vista político.

Politicamente é indelicada a ingerência nos assuntos internos de um país vizinho, a não ser que existam razões extremamente fortes para o fazer. Para além disso, existe uma tendência dos países ocidentais para mandar nos outros países, dizendo-lhes aquilo que devem ou não fazer. O que cria nos cidadãos desses países a ideia, quiçá não incorrecta de todo, de que os europeus são arrogantes e neo-colonialistas.
e-pá! disse…
Caro Rui Cascão:

Eu até podia tolerar a posição do PE se - o que estivesse em causa - fossem "puras" razões políticas, já que tenho consciência da composição deste orgão, dominado pelo PPE.
Incompreensível, no entanto, continuaria a ser a posição adoptada pelo PSE...

Na realidade, o que se verifica é a sobreposição de razões económicas a princípios políticos que a Europa desde a Conferência de Yalta, adoptou.
Isto é, a descolonização feita com base no inalienável direito à autodeterminação dos povos e a manutenção das fronteiras coloniais.

Não é isso o que se passa no ex-Sahara Ocidental.
Se há intromissão em assuntos internos esta será subsidiária da intervenção expansionista de Marrocos na antiga colónia espanhola.

O PE não cometeria nenhum crime, nem adoptaria nenhuma atitude neo-colonialista, se reivindicasse o cumprimento por Marrocos do texto da resolução 1871 do Conselho de Segurança da ONU:
"O Conselho de Segurança pede a Marrocos e à Frente Polisário para prosseguir as negociações de "boa fé e sem condições prévias, com o fim de alcançar uma solução política justa, duradoira e mutuamente aceitável que permita a autodeterminação do povo do Sahara Ocidental".

A atitude marroquina para com Aminetu Haider é complementar à rejeição por Marrocos do "Plano Baker II", enviado especial da ONU, que preconizou um referendo sobre o destinos do Sahara Ocidental. Aguarda-se a sua realização há 16 anos, porque Marrocos não aceita qualquer resultado diferente da pura e simples integração no Reino dos alauitas.

Politicamente, o PE não deve sobrepor questões tácticas a princípios estratégicos.
E este enviesamento é tanto mais grave quando entra em choque com resoluções e acordos obtidos no âmbito das Nações Unidas.

Esta é, em meu entender, uma razão suficientemente forte para condenar a atitude de Marrocos, não só em relação à questão humanitária e de reivindicativa da sua nacionalidade de Haider, como também, em todo o processo de resolução do diferendo entre a República Arabe Saharaui Democrática e o reino de Mohammed VI...

Como dizia Voltaire:
A dissimulação é virtude de rei e de criada de quarto...

Mohammed VI é rei, mas Aminetu Haider não é propriamente uma criada de quarto da corte marroquina (sem qualquer desprezo ou ofensa para esta profissão).

Haider é - sem qualquer arrogância - uma respeitada activista da causa saharaui.

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