ELEIÇÕES - só falo sobre ética política...


A entrevista de Manuela Ferreira Leite hoje na RTP1 foi extremamente elucidativa para os portugueses.

Não existe, propriamente, um programa eleitoral.
Virão mais tarde a público uns alinhavos que, no fundamental, serão uma colectânea das intervenções avulsas que a líder do PSD foi debitando ao longo deste ano de exercício da presidência do partido.


De resto, o seu programa congregará um conjunto de normas éticas e de princípios comportamentais que serão do maior interesse para definir a personalidade da entrevistada, mas nada acrescentam na área das opções políticas, económicas, sociais e culturais, como seria de esperar de um candidato à governação do País.

Ah! E, não esquecer, a insistência numa atitude intransigente perante a verdade, como se a seriedade, a sinceridade, a conformidade entre a retórica e a realidade caracterizassem e modelassem um programa político. É uma condição necessária, mas não suficiente.

Na realidade, os atributos que explanou como se fossem um programa eleitoral, podem encher o vazio criado pela ausência de uma linha de conduta política (a doutrina), mas nada acrescentam na resolução dos problemas nacionais.
Só, depois de muita insistência de Judite de Sousa, condescendeu em anunciar algumas medidas avulsas que não pretende levar a efeito, aparentemente, prisioneira do programa eleitoral do PS, entretanto, já divulgado aos portugueses.
Por outro lado, este vazio e o egocentrismo que cultiva ad nauseum permite-lhe fazer tudo, ou, não fazer nada. Conforme calhar.
É a fuga a qualquer compromisso para com os cidadãos. Assim, cumpre-se sempre!

Ao fim e ao cabo, Manuela Ferreira Leite, sugeriu aos portugueses que votem no PSD. Depois se verá o que se pode fazer.
Pediu – repisando que é uma pessoa séria e com princípios - que assinemos um cheque em branco.
Em período de crise e nos tempos que correm poucos portugueses estarão dispostos a cometer essa imprudência.

Finalmente, esqueceu-se que os cidadãos já conhecem um substancial naco do seu percurso como governante e não embarcam nestas mudanças radicais, súbitas que, desde logo, cheiram a uma rudimentar maquilhagem. Em política, uma experimentada senhora das lutas políticas, não deve tentar assumir uma postura de uma virginal vestal...

De qualquer modo, a líder do PSD abriu caminhos para o seu futuro...
Apresentando um discurso para as eleições Legislativas com tão pesada carga ética e tão inócuo e desértico em matéria de projectos políticos, deverá ter, no futuro, um lugar assegurado, ou no sector financeiro – como sabemos verdadeiros alfobres da ética de mercado de braço dado com a ganância - ou, na pior da hipóteses, integrando uma futura CNECV…

Comentários

Nessa entrevista, MFL revelou a sua curiosa concepção da articulação entre os poderes legislativo e executivo, isto é, da democracia.
Em democracia, a sede da soberania reside no Parlamento, eleito directamente pelo povo; o executivo serve para executar as políticas definidas pelo Parlamento.
Porém, quando questionada sobre a não inclusão nas listas do PSD de qualquer elemento que não fosse seguidor fiel da sua linha política, respondeu que isso não fazia sentido porque a função dos deputados da maioria era votar a favor das propostas do Governo.
Quer dizer: para ela, se o PSD ganhasse as eleições, a soberania passaria a residir nela própria, servindo o Parlamento apenas para aprovar as propostas dela. Tal como a Assembleia Nacional de Salazar.
Parece assim que ela pretende realmente "suspender a democracia" não apenas por 6 meses mas pelo menos por 4 anos!
e-pá! disse…
Caro AHP:

Na entrevista de Manuela Ferreira Leite, ontem na RTP1, quando interrogada sobre a questão da acusação anónima emanada de Belém sobre eventuais "escutas" do Governo aos assessores da Presidência da República, tivemos de "suportar" esta tirada:

“Não quero saber se há escutas ou não, não quero saber se há retaliações ou não.
O que é grave é que as pessoas acham que há”...


Estupenda a ligeireza com que se passa do rumor, dos sound-bites, ou das leviandades do inner circle de Belém, ao "achamento" de uma "verdade de conveniência", através de uma vil manipulação.

É que, com toda a certeza, os portugueses "acham" que devem saber se, de facto, e comprovadamente, há escutas, se há retaliações...ou, se alguém, para encobrir a incapacidade de apresentar um programa eleitoral a tempo e a horas, anda a entreter a populaça, promovendo manobras de diversão.

A política é baseada em factos e não em palpites. E, vergonhoso, é tentar vender palpites como incontestadas verdades...

Na verdade, como os brasileiros dizem: a coisa aqui está...preta!

Ou ficamos só pelo Preto...(António de sua graça)
ana disse…
O momento mais verdadeiro da entrevista foi aquele em que ela soltou um pequenino arroto.Nada de monumental, é certo, mas ainda não consegue controlar tudo.

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