Os heróis com pés de barro de João César das Neves

Na sua coluna de hoje no DN, João César das Neves faz a recensão acrítica da tradução para português da obra "Intelectuais" do panfletista de extrema-direita britânico Paul Johnson. O panfleto a que JCN alude trata-se de uma compilação de "biografias" de alguns intelectuais que moldaram decisivamente a cultura, as artes e a filosofia (Rousseau, Marx, Ibsen, Hemingway, Brecht, Tolstoi, Russel, Sartre, Gollancz), recorrendo à verrina e procurando desvalorizar o seu humanismo com recurso aos mais baixos argumentos ad hominem, elencando e fazendo a exegese dos seus defeitos e taras.

Ora Paul Johnson, "guru" da extrema-direita anglo-saxónica, herói dos "neo-cons" americanos, é alegadamente um santo com pés de barro. Foi publicamente desmascarado pela sua amante durante 11 anos (Johnson é casado e pai de família), Gloria Stewart, que entre outros detalhes íntimos, revelou as tendências masoquistas de Johnson, que aparentemente gosta de ser espancado (veja-se aqui, aqui e aqui).

Cá está uma manifestação típica do falso moralismo da grande maioria dos fanáticos religiosos/moralistas, que frequentemente têm eles próprios esqueletos no armário. Johnson através da verrina procurou denegrir personalidades que pela sua obra marcaram a humanidade salientando os detalhes negros da sua vida privada. Johnson também tem os seus pecadilhos, e a sua obra reduz-se a panfletos de baixa extracção. JCN devia escolher melhor os seus ídolos...

Comentários

e-pá! disse…
Oh Professor!
...e se escrevesse sobre a degustação de conquilas?...
Para JCN todos aqueles que incluirem, no seu curriculum, um visível não-alinhamento com as concepções da ICAR, se revoltaram contra o exercício e a aberração do poder temporal da Igreja, ou durante a sua vida se revelaram agonósticos ou ateus, são para ser acusados, denunciados e se possível ostracizados.

A lista é impressionante pela quantidade e qualidade de ilustríssimos "intelectuais": Rousseau, Marx, Ibsen, Hemingway, Brecht, Tolstoi, Russel, Sartre, Gollancz...
De facto, criteriosamente, escolhida.

A este apontar o dedo, muitas vezes a vida destes homens que construiram história, seguia-se as mais preversas vinganças, como: o banimento, a exclusão, o exílio, o repúdio, a repulsa.

O intuito primeiro seria tornar o cidadão em causa, um suspeito.
Depois calá-lo pela fome. Isto é, afastá-lo e não dar-lhe possibilidade de sobrevivência que não seja o arrastar os joelhos e o rastejar. Finalmente, afastá-los das impias congeminações que lhes passavam pela cabeça.

Muitos - todos somos humanos - lutaram contra a infâmia urdida, comentada e divulgada, no seu tempo. Melhor resistirão, agora, à intriga extemporânea de Paul Johnson.
Hoje, são personagens da História em diferentes ramos: das artes, da literatura, do teatro, da filosofia, da economia, etc.

JCN, ilustre economista e incansável condestável das causas religiosas, não entendeu que, este caviloso e selectivo processo de intenções atirado insidiosamente a estes cidadãos, não é mais do que a subtil e diáfona perpetuação no Mundo da Arte, da Ciência, das Letras de repugnante política da fogueira...
É manter, à sorrelfa, a chama acessa para o que der e vier...
Oh Professor!
Aproveite o calor e ponha o tacho das conquilas ao lume...

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