Associação Ateísta Portuguesa


Lisboa, 24 Out (Lusa) - A Associação Ateísta Portuguesa recorreu na quinta-feira ao primeiro-ministro para obter esclarecimentos sobre a participação de militares portugueses numa "peregrinação militar internacional" a Lourdes, após não os ter obtido, desde Junho, do ministro da Defesa Nacional.
5:03 Sexta-feira, 24 de Out de 2008

Lisboa, 24 Out (Lusa) - A Associação Ateísta Portuguesa recorreu na quinta-feira ao primeiro-ministro para obter esclarecimentos sobre a participação de militares portugueses numa "peregrinação militar internacional" a Lourdes, após não os ter obtido, desde Junho, do ministro da Defesa Nacional.

Na carta enviada a José Sócrates, a que a Agência Lusa teve acesso, o presidente da Associação Ateísta Portuguesa (AAP), Carlos Esperança, recorda os pedidos de esclarecimento enviados a 2 de Junho ao ministro da Defesa Nacional, Nuno Severiano Teixeira, e que por este nunca terão sido prestados.

Com base numa notícia difundida pela agência Ecclesia, a AAP ficou a saber que "Portugal levou 700 peregrinos [militares] ao Santuário de Lourdes (França) para participarem numa Peregrinação Militar Internacional".

No entender da AAP, "num Estado laico, as Forças Armadas não devem apoiar oficialmente a devoção a uma religião".

Acresce que, para a AAP, "o facto de um cardeal austríaco ter presidido à peregrinação e dado instruções aos militares portugueses configura uma grave interferência na soberania de um país laico e uma usurpação de funções que cabem ao Ministério da Defesa Nacional ou, por delegação, aos chefes dos estados-maiores".

Pergunta assim a AAP se "os militares peregrinos viajaram a título particular ou oficial" e se "usaram as férias normais ou tiveram uma semana suplementar para este propósito".

Quer ainda saber a AAP se "as Forças Armadas colaboraram na despesa da expedição eucarística" e "no caso de ter havido custo para o Erário Público, qual a disposição legal aplicada e o cabimento orçamental previsto".

Finalmente, Carlos Esperança interroga, em nome da AAP: "Por se tratar de uma missão militar no estrangeiro, foi autorizada pelo Comandante Supremo das Forças Armadas, o senhor Presidente da República?"

OM.

Lusa/fim

Comentários

e-pá! disse…
CE:

Sem querer ser maldicente, nem agoirento, penso que o destino deste pedido de esclarecimento da AAP será idêntico ao das diligências efectuadas sobre os voos fantasmas da CIA em Portugal.

É que as respostas directas, frontais, verdadeiras, correm sempre o risco de ofender alguém...

O Governo é muito proteccionista na salvaguarda do bom nome dos lusitanos (de alguns).
São reminiscências do passado...

Nos voos da CIA passou o tempo a esconder a evidência para acabar por admitir que não devia (nem queria!) encalacrar Barroso, que exerce altas funções na UE, como presidente da CE.
Na peregrinação militar a Lourdes, não vai deixar o prelado Januário Torgal Ferreira, em maus lençóis, uma vez que tendo mais de 70 anos, deve estar de partida. Ou, então, teríamos de admitir que o bem comportado e politicamente correcto Nuno Severiano Teixeira cometeu um deslize do tipo "Manuel Pinho" ou "Mário Lino".

Jamais! (dar-lhe um sotaque afrancesado...)

Assim, o actual Governo, não querendo (ou evitando) ofender alguns figurões da nossa praça, de facto, acaba por vilipendiar todos os cidadãos.
No primeiro caso, a falta de transparência nas atitudes e declarações, a subtração do direito à informação e a violação da obrigação de um escrupuloso respeito pelos Direitos Humanos.
e,
No segundo, tão somente feriu Estado laico, desrespeitou a Constituição e favoreceu uma Instituição.

Cumprir obrigações, não é coisa de pouca monta, como diz o povo
e-pá! disse…
Adenda:

Esqueci-me de comentar a pertinente pergunta do final do post:
"foi (a peregrinação militar a Lourdes) autorizada pelo Comandante Supremo das Forças Armadas, o senhor Presidente da República?".

O Senhor Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas vai, com certeza, tomar duas decisões:
1º) Como PR, não tem nada a ver com o assunto. É um problema do foro governativo e não quer quezílias com a Igreja (mostrou isso quando foi ao Vaticano);

2º) Como Comandante Supremo das Forças Armadas, depois de enfatizar que a co-habitação com Socrates não pode viver ao sabor de questiunculas excursionistas, de chamar Manuela Ferreira Leite a Belém para fazer contas, de elogiar a acção do Nuno Severiano Teixeira na dignificação das FFAA e de pedir indulgências a D. Januário Torgal e perdão pelos problemas levantados pelos republicanos acerca das capelanias militares, VAI CONDENAR A PEREGRINAÇÃO MILITAR A LOURDES.

A fundamentação:
um venal desperdício económico!.
Podiam rezar no Convento de Mafra, que está entregue às FFAA, acompanhados das respectivas guias de marcha, deslocação por meios próprios (a pé) e abonados de rações de combate.

Terminará com um apelo aos portugueses:
É preciso poupar!
O Estado e consequentemente as Forças Militares devem dar o exemplo.
Acerca da Igreja não se pronuncia porque há séculos e séculos que não publica as contas do seu exercício de modo que desconhece a situação económica real desta Instituição.
Concordo inteiramente com a A.A.P., e penso que a sua pergunta é absolutamente pertinente: qualquer cidadão tem o direito de saber como são gastos os dinheiros públicos e de saber como são utilizadas as forças públicas, designadamente o Exército.
A falta de resposta revela, infelizmente, falta de cultura democrática e até falta de educação.

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